Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Fiasco sem remédio

Aviltada, Saúde desperdiça R$ 240 mi em medicamentos sem explicação razoável

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O ministro Marcelo Queiroga, da Saúde - Pedro Ladeira/Folhapress

Com menos de seis meses no Ministério da Saúde e três antecessores no mesmo governo, Marcelo Queiroga sem dúvida enfrenta problemas para se explicar diante dos múltiplos fiascos da pasta —e o caso dos medicamentos vencidos é só o mais recente deles.

A Folha revelou na segunda-feira (6) que o governo federal deixara expirar o prazo de validade de um estoque farmacológico avaliado em R$ 240 milhões. Com a quantia desperdiçada seria possível comprar 4,5 milhões de doses da vacina da Pfizer contra a Covid.

Perderam-se 820 mil canetas de insulina e 12 milhões de doses de vacina contra gripe, hepatite B e varicela, por exemplo. Os demais remédios aliviariam pacientes com hepatite C, câncer, Parkinson, Alzheimer, tuberculose, doenças raras, esquizofrenia, artrite reumatoide e problemas renais, entre outros padecimentos.

Os 3,7 milhões de itens na central logística em Guarulhos (SP) serão agora incinerados, embora muitos deles faltem em unidades básicas de saúde do país. Só em medicamentos de alto custo adquiridos pelo SUS por ordens da Justiça, R$ 32 milhões virarão fumaça.

Queiroga tentou explicar-se na quarta-feira (8), durante reunião da Comissão Temporária da Covid-19 no Senado. Buscou transferir a culpa para governos passados, alegando que produtos vencidos haviam sido comprados nas gestões de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Dados obtidos por este jornal deixam claro que a maioria dos produtos teve as datas de validade ultrapassadas já no governo Jair Bolsonaro. Tal desastre não chega a surpreender, pois o presidente tem feito de tudo para tumultuar o ministério, trocando sucessivamente de ministro na pior emergência sanitária enfrentada pelo país.

É ironia amarga Queiroga ter sido precedido por um militar tido como especialista em logística. O general Eduardo Pazuello, contudo, esteve mais ocupado em acolher atravessadores de vacinas do que em gerir paióis de remédios —e terminou promovido a cargo na intimidade do Palácio do Planalto.

A ineficiência no setor decerto não começou com Bolsonaro, mas será difícil encontrar descaso e inépcia comparáveis na história.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.