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Alexei Macorin Vivan

O horário de verão deve voltar no Brasil? NÃO

Mínimo, benefício não justifica ônus para os que sofrem com a mudança

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Alexei Macorin Vivan

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE) e sócio de SVMFA Advogados

O horário de verão, comemorado por uns e criticado por outros, foi criado com o objetivo principal de poupar o sistema elétrico, deslocando em uma hora o pico do consumo de energia.

Ao adiantar os relógios em uma hora, o dia fica mais longo, e a maioria das pessoas retornam aos seus lares ainda com luz, retardando o acionamento da iluminação das casas —o que costumava ser o momento de maior estresse no sistema elétrico.

Os contrários à medida reclamam da dificuldade de adaptação do organismo: continuam acordando no horário biológico, quando ainda é noite, e vão dormir mais tarde. Os benefícios do horário de verão passaram a ser questionados por especialistas e, em 2019, sua adoção foi suspensa pelo governo federal.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), recentemente, divulgou que o horário de verão tem efeito quase nulo para o sistema elétrico. A mudança de hábitos da população e as alterações climáticas, com ondas de calor mais intensas, alteraram o pico de consumo de energia para o meio da tarde, com o acionamento massivo dos equipamentos de ar condicionado.

Dados do Ministério de Minas e Energia mostram a evolução da economia de energia com o horário de verão. Em 2012, a economia foi de R$ 160 milhões, aumentou para R$ 405 milhões em 2013 e, desde então, vem caindo, passando a R$ 147,5 milhões em 2016. A energia poupada também caiu de 2.565 MW, em 2013, para 2.185 MW em 2016, de acordo com o ONS. São números reduzidos para os padrões de consumo de energia nacionais. Assim, tecnicamente, não mais se justificaria o ônus para aqueles que sofrem com a medida. Porém, e sempre há um porém, estamos na maior crise hídrica da história.

Os reservatórios das hidrelétricas brasileiras, responsáveis por cerca de 60% da geração de energia elétrica do país, estão nos níveis mais baixos desde que os dados passaram a ser registrados, há 91 anos.

Para garantir o suprimento de energia elétrica, todas as usinas termelétricas do país estão acionadas, e tudo indica que assim permanecerão durante o período úmido, que é a temporada de chuvas que vai de novembro a abril de cada ano.

Será a primeira vez em que todas as térmicas permanecerão ligadas durante o período úmido, o que imporá um aumento expressivo nas contas de energia elétrica da população. Nosso sistema elétrico está operando no limite, com riscos de interrupções no fornecimento pontuais, curtas e localizadas nos momentos de picos de consumo. Além disso, por mais que o horário de pico do consumo tenha se deslocado para o meio da tarde, nada garante que ele não ocorra, eventualmente, no final do dia.

Por isso, nesse cenário de incerteza, escassez de água e de exigência máxima do sistema elétrico, qualquer economia, por menor que seja, é bem-vinda e qualquer alívio do sistema é prudente e desejável.

Entretanto, de qualquer forma, não será o horário de verão que fará diferença na crise hídrica. A solução, que não é de curto prazo, precisa ocorrer no sentido de que o país retome os investimentos em fontes de geração perenes, confiáveis e que confiram segurança ao fornecimento de energia ao sistema elétrico.

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