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O voto ou a queda

Datafolha ajuda a explicar por que Bolsonaro recuou da cavalgada autoritária

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O presidente Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro vislumbrou o abismo da deposição e decidiu recuar. Essa hipótese, corrente para explicar os acontecimentos da Semana da Pátria, ganhou solidez com os resultados do Datafolha que foi a campo quatro dias depois da nota do chefe de Estado colocando panos quentes nas declarações subversivas do feriado.

Indagados sobre se o impeachment deveria ser a consequência caso o mandatário cumprisse a promessa, feita nos comícios, de desobedecer a ordens do Supremo Tribunal Federal, 76% dos brasileiros disseram que sim. O repúdio às ameaças autoritárias do governante não poderia ser mais claro.

Metade dos entrevistados reconhece possibilidades golpistas nas atitudes do presidente da República, mais um indicador do zelo pelo patrimônio em que se converteu para a sociedade brasileira a democracia —definida por 70% como a melhor forma de governo.

Esse conjunto de resultados ajuda a entender o beco sem saída em que se meteu Jair Bolsonaro não exatamente no 7 de Setembro, mas sobretudo quando o dia seguinte amanheceu com o rochedo da institucionalidade avultando-se impávido sobre o aventureiro boçal.

Uma parcela de lunáticos que acompanhou o presidente em sua marcha sobre o nada acreditou que uma multidão, apoiada por caminhoneiros arruaceiros, teria o condão de reverter a decisão do Congresso pelo voto eletrônico, substituir juízes da corte constitucional e instalar uma nova era no poder.

O sol nasceu no dia 8 com o presidente da República diante de duas vias: ou honrava a sua palavra da véspera e encarava o impeachment —como bem frisou o ministro Luiz Fux, ecoando a convicção de 3 em cada 4 brasileiros—, ou se desmoralizava, trocando o dito pelo não dito, na tentativa de sobrenadar. Agarrou-se à segunda opção.

Sob a Carta de 1988, a alternativa do mandatário ao cumprimento da regra constitucional é a queda. Bolsonaro não está obrigado a concorrer à reeleição, mas, se o fizer, irá se submeter ao processo de votação e apuração eletrônico, sob a arbitragem neutra dos magistrados legitimamente escolhidos para conduzir a Justiça Eleitoral.

Caso sobrepuje seus adversários em votos, será empossado em 1º de janeiro de 2023 para novo mandato. Se perder, como hoje indica o Datafolha, volta para casa. Nessa hipótese sairá derrotado, não morto ou preso, do Palácio do Planalto.

O trabalho de reverter a impopularidade, ademais para um presidente incapaz como Bolsonaro, não será fácil. Passa por oferecer melhores condições de vida e de futuro à maioria dos brasileiros.

A miragem inebriada de que poderia haver um atalho se desfez na ressaca cívica que se seguiu ao 7/9.

editoriais@grupofolha.com.br

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