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José de Abreu

Peço desculpas, Tabata; errei redondamente

Deputada, não ouça o canto da sereia do liberalismo: lutemos por algo maior

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José de Abreu

Ator

Tenho 75 anos e uma coleção de erros na vida. Viver tanto é saber que estou muito longe da perfeição. Mas todo esse tempo traz também uma lição: aprender com os próprios erros.

Como amplamente noticiado, num impulso que já tive milhares de vezes, retuitei um post que dizia “Se encontro na rua, soco até ser preso”. No caso, dirigido à deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP).

Quem lida com redes sociais sabe que retuíte (RT) não significa endosso de opinião. Pode até servir para alertar, para denunciar algo fora de sentido. No meu caso, queria dizer algo assim, implicitamente: “Deputada, a senhora fala que eu lhe bato duro, mas olha isso aí!”.

Retrato do ator José de Abreu
Retrato do ator José de Abreu - Zé Carlos Barretta - 15.mai.2018/Folhapress

Só que não! Só que eu não falei explicitamente. O resultado é que o RT criou polêmica enorme, e eu peço desculpas à deputada Tabata Amaral. Errei redondamente ali.

Creio que nossa diferença, sobretudo para os apoiadores de primeira hora do genocida, é a consciência de nossos atos. E a consciência permite o arrependimento.

A consciência nos leva à autocrítica. Sobretudo para uma pessoa como eu, que exerce a crítica de forma tão contundente e direta, creio que a coerência exige uma autocrítica com o mesmo furor.

Em sua coluna na Folha (“‘Se encontro na rua, soco até ser preso’, retuitou José de Abreu”; 25/9), a deputada agiu de forma inteligente ao magnificar o erro que cometi. Foi politicamente sagaz.
“Erro”, palavra difícil de admitir. Mas, dizia Juscelino Kubitschek, “não tenho compromisso com o erro”.

Ao mesmo tempo, tenho uma vida da qual me orgulho de muitas coisas corretas que fiz também. Na arte e na política. A mais importante delas foi sempre confiar na inocência do ex-presidente Lula.

Talvez ou certamente, deputada Tabata, a sua capacidade de colocar essa lente de aumento num RT não seja tão somente por aqueles que a apoiaram, mas por aqueles que me atacaram justamente pelas posições que assumo —muitas vezes ousadas, corajosas e destemidas. Talvez muito desse apoio tenha sido mais contra mim do que a seu favor.

Só saberemos disso a partir de uma aguardada mudança de rumos de seu mandato parlamentar, agora como representante do Partido Socialista Brasileiro e em companhia da sombra dos grandes Francisco Julião, João Mangabeira, Miguel Arraes, Antônio Houaiss, Marcelo Cerqueira, Evandro Lins e Silva, Jamil Haddad, Joel Silveira, Rubem Braga e Evaristo de Moraes —entre outros célebres políticos socialistas.

Talvez você também, assim como eu, possa virar alvo da direita. Muitos dos que a defenderam têm as mãos sujas de sangue: criminalizaram sem pudor e tiraram da eleição quem tem sido o preferido do nosso povo para conduzi-lo, levando o país à maior crise humanitária, econômica e social do nosso tempo.

O que espero para além das nossas diferenças, deputada, é que você venha se juntar à luta contra os grandes problemas do Brasil: miséria, fome, desigualdade, modelo privatizante canibalista do liberalismo selvagem, “reformas” que nada mais são do que rótulos para violências contra nossos direitos.

Você demonstrou capacidade de mobilização: que Deus lhe ilumine para usar isso para o bem e para as boas lutas em favor do povo brasileiro.

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