Descrição de chapéu
O que a Folha pensa petrobras

Política do tumulto

Sem boas opções ante a realidade do mercado, Bolsonaro desgasta a Petrobras

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia para os mil dias de seu governo - Ueslei Marcelino/Reuters

Jair Bolsonaro tem uma política própria para a Petrobras e os combustíveis: de tempos em tempos, reclama dos preços altos ou insinua uma intervenção na empresa; pouco depois, recua das bravatas, como se apenas tivesse se excedido, e afirma de modo inconvincente que respeitará as regras do jogo.

A síntese desse vaivém é a irresponsabilidade. Como de costume, o presidente faz parecer que está de mãos atadas —e posa de inconformado perante seus seguidores.

Tal estratégia canhestra não se conduz sem danos institucionais, não raro com efeitos econômicos. Bolsonaro coloca em dúvida a autonomia da direção da Petrobras e ameaça a continuidade do sistema de preços. Assim, lança descrédito sobre a companhia, que perde valor de mercado e vê crescer seus custos de financiamento.

Dados os riscos do intervencionismo e o peso da gigante estatal, os faniquitos do Planalto acabam por degradar as condições financeiras do mercado como um todo. Para piorar, a demagogia conta com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o garantidor do mandato presidencial.

Após tantas investidas sem outra consequência além do tumulto especulativo, resta saber se Bolsonaro ainda convence sua audiência.

Por ocasião dos mil dias passados desde a sua posse, o chefe de Estado mais uma vez arengou sobre combustíveis. Horas depois, a direção da Petrobras reafirmou que continuaria a fixar seus preços de acordo com flutuações do valor do barril de petróleo e da taxa de câmbio. No dia seguinte, reajustou o preço do diesel.

Mais reajustes virão —há escassez no mercado global de energia. Bolsonaro apelará a mais ameaças nebulosas ou vai tomar alguma providência para atenuar os impactos sobre a população?

Noticia-se que está nos planos do governo a criação de um fundo que financie um subsídio para o consumidor nos momentos de alta mundial do petróleo —e que receberia recursos de volta em caso de queda de preços internacionais.

Um mecanismo do tipo, tal como a Cide, apenas é capaz de atenuar variações, não o patamar de preços. Não será uma solução que agradará a seguidores acostumados à promessa de soluções mágicas do bolsonarismo.

A questão, no entanto, tem implicações eleitorais; no limite, pode suscitar greves de caminhoneiros. Bolsonaro está emparedado entre seus impulsos populistas e a realidade inescapável de mercado.

Como sua gestão carece de ideias e articulação, restam as opções de uma providência tardia e de baixo impacto, como o tal fundo, e algum tipo de represamento de preços que prejudicaria a Petrobras ou o Tesouro —e o contribuinte.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.