Um ano e três meses de muita dor. Saudade da voz, do cheiro, do calor do seu corpinho. Revolta e indignação. Perdi meu filho para o racismo. Dentro desse período de luta, o caso de Miguel ficou conhecido internacionalmente e virou um caso emblemático de racismo estrutural. Os movimentos sociais, as organizações da sociedade civil, a população do Brasil e do exterior se juntaram a mim nessa luta.
Mesmo assim, a morosidade da Justiça brasileira prevaleceu porque foi o corpo de uma criança negra que tombou, e todos os casos de crianças negras são tratados de forma diferente. Miguel Otávio Santana da Silva , 5, foi abandonado no elevador por minha ex-patroa enquanto eu havia saído para levar a cadela da família para fazer suas necessidades na rua. Quando retornei, o zelador me disse que alguém tinha caído do prédio. Chegando ao andar “L”, encontrei meu filho no chão.
No dia 3 de dezembro de 2020, depois de muita pressão e passados seis meses do crime que Sarí Côrte Real cometeu contra meu filho, ocorreu a primeira audiência do caso. Foram ouvidas as testemunhas de acusação, restando três testemunhas de defesa e a acusada. Penso que foi uma estratégia dos advogados de defesa, que estão fazendo de tudo para defendê-la ao ponto de informarem um endereço errado dentro do processo para atrasar o andamento.
O Judiciário foi conivente com tal situação ao ponto de enviar nota à imprensa dizendo que as testemunhas que seriam ouvidas por carta precatória já tinham sido ouvidas. Conivente em ouvir uma testemunha em sigilo dentro de um processo que não tramita sob segredo de Justiça. Isso me revolta.
Sobre a nota à imprensa, nenhuma justificativa foi dada. Sobre o pedido de anulação do absurdo depoimento dessa testemunha, foram feitas várias cobranças. O Ministério Público Estadual aceitou a anulação, mas o juiz, não, alegando ser uma testemunha de conduta e que isso não interferiria no andamento do processo. Justificativa essa que não me convence, mas o Judiciário manda seguir com o processo.
Nesta quarta-feira (15), 9 meses e 12 dias depois da primeira audiência, Sarí Côrte Real e outras duas testemunhas serão ouvidas. A acusada teve tempo suficiente para ensaiar seu texto e encenar na frente do juiz. Mesmo diante de tudo isso que estão fazendo para me cansar psicologicamente, me machucar ao ponto de tentar demonizar o meu filho, não vou desistir dessa luta. Estou de pé pela permissão de Deus e não vou desistir. Por amor ao meu filho, quero Justiça pelo meu neguinho, quero Justiça por Miguel Otávio, meu amor.
#justiçapormiguel.
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