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O que a Folha pensa inflação

Temores globais

Mercados financeiros refletem percepção de risco de alta mundial da inflação

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Profissional na Bolsa de Nova York - Michael Nagle - 18.mar.20/Xinhua

Com a redução dos riscos de contágio oriundos da variante delta do coronavírus, vai se firmando uma perspectiva de reabertura mais ampla da economia mundial nos próximos meses —e com ela parecem se generalizar, em contrapartida, as pressões de preços.

O risco de um fenômeno inflacionário mais duradouro já traz ruídos nos mercados globais, que temem uma reviravolta no ambiente de juros baixos que vigora até agora. Foi o que levou Bolsas de Valores a amargarem perdas expressivas em países diversos, Brasil incluído, na terça-feira (28).

As análises mais comuns há algumas semanas consideravam a inflação como um fenômeno setorial de curto prazo, derivado da desorganização produtiva e das alterações nos padrões de consumo durante a pandemia, que deveria ser revertido em poucos meses.

Segundo tal raciocínio, a inflação elevada neste ano —por causa da escassez de itens essenciais por interrupções fabris, caso dos chips de computador que equipam bens duráveis, ou excesso pontual de demanda— daria lugar a uma desaceleração em 2022.

No caso dos Estados Unidos, por exemplo, a inflação ao consumidor acumulada em 12 meses chegou a inusuais 5,3% em agosto, mas prevaleceu até aqui a expectativa de retorno ao patamar histórico próximo a 2% nos próximos anos. Não haveria uma alteração duradoura do padrão, portanto.

Mas há outros elementos que turvam essa leitura benigna. Generaliza-se um quadro de escassez de energia em vários centros produtores mundiais —a falta de gás natural na Europa e de carvão na China fez disparar os custos de geração.

O mesmo ocorre com as cotações do petróleo, que superaram os US$ 80 por barril nesta semana, antes mesmo que a retomada mundial esteja consolidada.

A pressão por redução de emissões de carbono compõe o pano de fundo para os aumentos dos preços das fontes tradicionais de geração de energia e dos metais que farão parte dessa transformação.

A disparada nos custos de insumos, inclusive de mão de obra, pode ser mais persistente se for derivada de alterações sustentadas nos padrões estabelecidos para a produção e o comércio mundial.

O risco é o súbito e profundo processo de reorientação produtiva das últimas décadas contaminar as expectativas de empresas e famílias, o que faria a inflação mundial mudar de patamar.

Isso já leva bancos centrais a reverem seus juros —e o caso do Brasil é agravado por desvalorização do real e descrédito do governo.

editoriais@grupofolha.com.br

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