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James Ackel

A ignorância é o pior dos defeitos de um líder

Característica pode balizar atos e atitudes desastrosas

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James Ackel

Jornalista e ex-conselheiro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)

Todo chefe de Estado é um líder. O líder lidera seus liderados, que acreditam no líder. Este é o desenho da liderança.

E, para seguir o líder, é preciso que os liderados acreditem nele do começo ao fim da jornada. No meio do caminho muitos liderados o abandonam, e isto acontece por inúmeras razões. Ou se desencantam com atitudes ou se sentem decepcionados por desvios de atitudes. O líder lidera uma maioria, mas não pode desconsiderar a minoria —até porque maioria e minoria são momentâneas, e todos pertencem à mesma nação.

A honestidade não é uma virtude, mas sim uma obrigação do líder, que deve ter como virtudes a serenidade e a sagacidade. O líder não pode reagir, mas se posicionar, porque toda reação é instintiva e não racional.

Ao se sentir atacado e reagir, o líder comete o erro de agir pelo instinto e deixa de entender o ambiente de disputa. Acaba cometendo erros primários, que não cometeria se tivesse pensado mais um dia.

Logo que tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro fez uma declaração de guerra contra esta Folha. Disse que acabaria com o jornal não lhe destinando verbas públicas. O espanto dessa declaração não é tanto a ameaça à Folha, mas sim a falta de conhecimento de que verbas públicas de publicidade são públicas e não privadas de um déspota.

Bolsonaro, que se autoproclama democrata o tempo todo, infelizmente mostrou logo no primeiro dia da vitória seu lado rancoroso para administrar a nação. E por inúmeras vezes vimos este lado governar e ter atitudes que nos lembram uma criança mimada, embora tenha mais de 60 anos de idade e seja o chefe da nação.

Eis que surge um novo momento de embate entre o presidente e a mídia. À mídia, seja ela qual for, cabe a contraposição de fatos e ideias. Este é o princípio do jornalismo. Em todas as democracias, a mídia tradicional sempre foi oposição ou, no mínimo, contraposição ao governo. Cabe à mídia tradicional a tarefa de alertar, prever, mostrar desigualdades e contradições do governo ou desonestidades e desmandos.

Eis que o chefe da nação, Jair Primeiro, num arroubo de rei impetuoso, decide cortar a cabeça do mensageiro das más notícias. Sim, porque ao cancelar as assinaturas da Folha em seu palácio, o que Jair Primeiro fez foi cortar a cabeça do mensageiro e não mudar a vida ou os fatos da vida.

A ignorância é o maior defeito dos líderes. Tira o conhecimento dos fatos, que podem balizar atos e atitudes do líder. Quando a gente não gosta de um veículo de mídia tradicional, quer seja a Folha ou a GloboNews, por entender que tem ideologias diferentes das nossas, o mínimo que devemos fazer é avaliar o conteúdo, afastarmos aquilo que consideramos agressão ou coisa parecida e localizarmos a notícia e os fatos publicados.

No momento em que você elimina o veículo de comunicação por preconceito ideológico, posta-se em estado de ignorância —e isto é o pior que um líder pode fazer.

O veículo não vai deixar de existir e continuará publicando notícias, artigos de opinião e reportagens.

O líder vai ficar na ignorância dos fatos. Quem ignora os fatos perde a guerra.

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