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A opção nuclear

Europa faz debate necessário sobre incentivo à energia contra mudança climática

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Passeata com muitas pessoas em que uma delas segura cartaz defendendo a energia nuclear
Manifestantes com cartaz em defesa da energia nuclear, em Bruxelas - Ana Estela de Sousa Pinto/Folhapress

Utilizada como fonte de energia civil desde os anos 1950, a energia nuclear segue dividindo opiniões. Há quem a considere perigosa pelos riscos de acidentes e contaminação de seus dejetos, enquanto outros a veem como a chave para um futuro mais sustentável.

Como os casos de Three Mile Island (EUA, 1979), Tchernóbil (União Soviética, 1986) e Fukushima (Japão, 2011) demonstraram, o potencial destrutivo é de fato enorme.

No maior produtor mundial, os EUA, são processadas 2.000 toneladas anuais de lixo radioativo, que demoram décadas para se tornarem inertes —ou até milênios, nos 3% mais enriquecidos do material.

Há fatores psicológicos: a energia nuclear foi dominada inicialmente para construir a bomba atômica, e o impacto público de grandes incidentes não pode ser desprezado.

Países como a Alemanha cancelaram seus programas nucleares na esteira de Fukushima, por exemplo. O mundo, contudo, voltou em 2020 ao patamar de produção de energia anterior à tragédia. Hoje, 10% da eletricidade consumida no planeta vem de reatores nucleares.

Mais do que isso, as vantagens da matriz ganham espaço no debate sobre as mudanças climáticas.

A energia nuclear é bastante limpa: sua emissão de carbono é zero na geração, sendo limitada aos processos de mineração e refino do urânio que usa como combustível.

Matrizes eólicas e solares são ainda melhores, mas elas não têm o caráter de perenidade que um reator possui, além de sujeitas ao humor dos ventos e das nuvens.

Sinal da força do argumento está na pujante China, lar de 11 das 53 usinas em construção no mundo e que visa substituir as poluidoras termelétricas a carvão.

Com isso, um grupo de dez países pediu na semana passada que a União Europeia chancele a energia nuclear com o selo verde do bloco, garantindo assim incentivos tributários para sua expansão.

Não é casual que a França lidere o grupo: além de tirar 70% de sua eletricidade do meio, o país tem uma indústria desenvolvida de olho em novos mercados. Há aspectos geopolíticos: o continente cada vez mais depende do gás natural vendido pela Rússia.

A iniciativa francesa é combatida por cinco nações, encabeçadas pela Alemanha, que pedem o banimento da matriz nuclear do bloco.

É ótimo que o debate ocorra e, se pautado pela ponderação científica, poderá ser de grande valia para o futuro da humanidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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