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Marcelo Castro

Ação pela vida

Apesar de alguns, Brasil merece todos os louvores no Dia Nacional da Vacinação

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Marcelo Castro

Senador da República (MDB-PI), é vice-líder do partido e presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte no Senado; ex-ministro da Saúde (2015-16, governo Dilma)

Cerca de 3 milhões de vidas são salvas anualmente pela imunização, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, alicerce do direito à saúde e à vida, que tem na prevenção do risco de agravos sanitários um de seus princípios. O Programa Nacional de Imunização (PNI), criado há 48 anos, com regulamentação legal em 1975, é uma das mais importantes formas de se prevenir doenças contagiosas.

A descoberta da vacina revolucionou a saúde pública no mundo. Graças aos esforços de cientistas, muitas doenças mortais foram erradicadas no Brasil, como a poliomielite e a varíola. Sarampo, meningite, coqueluche e hepatite, entre outras doenças, estão controladas graças ao alto índice de vacinação registrado nas décadas de 1980 e 1990. Mas os índices de cobertura vacinal do calendário básico de imunização estão caindo nos últimos anos. Um dos motivos apontados por especialistas são os movimentos antivacinas, que ganharam força com a disseminação de informações falsas, que colocam em dúvida a segurança da vacina.

Celebrar o Dia Nacional da Vacinação neste domingo (17) contribui para conscientizar as pessoas sobre a importância do PNI e do SUS. As ações e serviços de saúde pública do Brasil estão presentes nos estados e municípios, em grandes e pequenas cidades, aldeias e nos vilarejos mais longínquos do país. A vacinação é um compromisso constante com a vida e a saúde das pessoas.

O PNI garante o acesso gratuito a 19 vacinas para 40 doenças. Além de democrático e protetivo da vida humana, o programa é uma das bandeiras do SUS. A vacinação em massa contra a Covid-19 é fruto desse trabalho, e a ela se deve a redução dos casos e dos óbitos nos últimos meses. Quando não há escassez dos imunizantes, o Brasil tem capacidade de vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia, de acordo com o Ministério da Saúde. Infelizmente, apesar da segurança das vacinas, aqueles que ainda questionam a sua eficácia colocam em risco a própria saúde e a das pessoas com quem convivem.

Esse é um dos motivos pelos quais ouso afirmar que, como sociedade, agimos mal no combate à pandemia e merecemos a culpa, em diferentes graus, de responsabilidade. O governo federal errou desde o início e continua errando até hoje. Basta compararmos com a atuação de tantos outros países, como China, Austrália, Nova Zelândia, Finlândia, que rapidamente decretaram lockdown, busca ativa, teste em massa, uso de máscaras, distanciamento social e, principalmente, vacinaram a população com rapidez e eficácia.

No Brasil, o quadro é vergonhoso e extremamente triste com mais de 600 mil vidas perdidas. Não são poucas as crises que o Ministério da Saúde tem enfrentado com politização da vacina, leniência na sua aquisição e mazelas da corrupção que a CPI da Covid vem investigando, além dos recentes equívocos com a vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos. Tudo tão desnecessário. Bastaria a ciência, o bom senso e a tomada de decisão, baseada em evidências científicas, para honrar o longevo programa de imunização brasileiro, gravado na memória da população pela figura do Zé Gotinha.

Como ministro da Saúde, entre 2015 e 2016, enfrentei a pandemia do zika vírus com a ciência e a orientação da OMS. Pela primeira vez na história do planeta, o zika vírus foi apontado como causa da microcefalia em fetos durante a gestação. Uma ação unificada, coordenada pelo Ministério da Saúde, foi organizada, com cientistas, epidemiologistas, infectologistas e os secretários estaduais e municipais de Saúde. A estratégia foi determinante para que o combate à epidemia do zika vírus fosse, inclusive, motivo de elogios ao Brasil pela OMS.

Não andar bem no enfrentamento e combate da Covid-19 poderia ter um basta com a vacinação em massa da população, sem recuos ou faltas de imunizantes e falhas logísticas. Ainda assim, o Brasil merece todos os louvores pelo SUS e pela sua histórica e reconhecida trajetória de luta contra doenças que podem e devem ser controladas, erradicadas e contidas em nome da preservação da vida, este precioso e raro bem.

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