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Aposta no confronto

Presidente do Equador entra em choque com Congresso e apela a populismo para lidar com crise

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Policiais acompanham manifestação de sindicalistas contra reformas propostas por Guillermo Lasso no Equador. - Santiago Arcos/Reuters

Em apenas cinco meses à frente do governo do Equador, o presidente Guillermo Lasso, já conheceu o céu e o inferno da política.

Tendo assumido um país castigado pela Covid-19, no qual a vacinação engatinhava, Lasso corretamente priorizou o enfrentamento da crise sanitária, logrando em seus primeiros cem dias imunizar com duas doses metade dos equatorianos. Hoje, com quase 60% da população totalmente vacinada, o Equador só fica atrás, no continente, de Chile e Uruguai nesse quesito.

O sucesso da vacinação fez a popularidade do presidente chegar às alturas. Em meados de setembro, sua taxa de aprovação alcançou 74%, cifra inédita desde a redemocratização do país, em 1979.

Logo, porém, assomaram os problemas. O número de homicídios explodiu neste ano, gerando uma crise na segurança pública. De janeiro a agosto, foram registrados cerca de 1.400 assassinatos no país, mais do que em todo 2020.

Além disso, disputas entre cartéis de drogas detonaram uma série de rebeliões nos presídios, deixando um saldo trágico de mais de duas centenas de mortes.

Para lidar com o aumento da violência, Lasso lançou mão de um expediente extremo: o estado de exceção, com tropas do Exército nas ruas por 60 dias.

Por maiores que sejam os problemas nessa seara, a decisão do presidente não deixa de ser também uma tentativa de demonstrar força num momento em que enfrenta uma série de reveses na política.

Com uma bancada minoritária no Parlamento, Lasso não tem conseguido aprovar seus projetos. Passou ainda a ser investigado pelo Legislativo e pela Procuradoria após reportagens mostrarem que ele chegou a controlar 14 empresas em paraísos fiscais —algo vedado, pela legislação do Equador, a candidatos presidenciais.

Diante de tais atribulações, o mandatário preferiu partir para o confronto. Acusou uma conspiração para apeá-lo do poder, se recusou a prestar esclarecimentos ao Congresso sobre as offshores e ameaçou usar o mecanismo constitucional que permite dissolver o Legislativo e convocar novas eleições.

Na sexta (22), diante do anúncio de protestos nacionais contra aumentos dos combustíveis, Lasso apelou para o populismo e anunciou um congelamento de preços. Assim, o presidente liberal põe de lado suas convicções para tentar evitar a abertura de outra frente na crise enfrentada por seu governo.

editoriais@grupolha.com.br ​ ​

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