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O que a Folha pensa

Maratona da malária

Após um século de busca, vacina poderá salvar milhares de crianças africanas

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O mosquito do gênero Anopheles, principal vetor do parasito que causa malária - Jim Gathany/CDC/Divulgação/Reuters

Com uma pandemia que matou 4,8 milhões de pessoas em 23 meses, doenças difíceis de lidar como a malária caíram para segundo plano na atenção mundial. Não na pesquisa, felizmente, que também nesse caso traz boas novas relacionadas com vacinas.

Em 2019, pelo mais recente dado global disponível, a famigerada febre atacou 229 milhões de pessoas, 94% delas na África (onde predomina a infecção mais grave, pelo Plasmodium falciparum). Deixou 409 mil mortos, 274 mil (67%) dos quais crianças até 5 anos.

No Brasil foram 141 mil ocorrências em 2020, com 24 óbitos. Aqui é mais comum o P. vivax, que ocasiona quadro mais benigno.

Imunizantes eficazes contra o Sars-CoV-2 começaram a ser aplicados em um ano, rapidez nunca vista. Contra a malária se buscam vacinas há um século, e só agora um preparado obtém indicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso amplo, mesmo com eficiência de apenas 50% para evitar casos graves.

Não se trata de diminuir o feito, que promete salvar milhares de crianças. Mesmo que o impacto seja pequeno no Brasil, cabe registrar que a vacina se tornou possível porque um casal de cientistas brasileiros nunca se rendeu, em mais de meio século, aos obstáculos impostos pelo plasmódio.

Em 1967, refugiados nos EUA, Ruth e Victor Nussenzweig fizeram descoberta fundamental sobre repetição de aminoácidos essencial para desencadear a produção de anticorpos contra o protozoário. Foi a partir dela que o Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed e a empresa GSK chegaram ao imunizante RTS,S.

Protozoários como o plasmódio são seres bem mais complexos que vírus e bactérias, contra os quais vacinas costumam ter desenvolvimento mais célere. Pessoas infectadas repetidamente por mosquitos anofelinos voltam a ter a doença, pois seu sistema imune não chega a criar defesas contra o parasita.

Até aqui, sanitaristas contavam só com redes, inseticidas e drogas profiláticas para combater a malária, mas os avanços obtidos bateram num teto e estagnaram.

No estágio atual da corrida contra a Covid-19, ninguém sabe onde fica a linha de chegada. Na pista da malária, a maratona ganhou um pouco mais de chances de ser concluída até 2035, conforme a meta global fixada pela OMS.

editoriais@grupofolha.com.br

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