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O lado mais fraco

Irresponsabilidade de Bolsonaro na gestão da economia imporá custo alto para os mais pobres

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Um homem e quatro mulheres escolhendo restos de alimentos descartados numa lixeira do lado de fora do Mercadão Municipal.
Pessoas buscam restos de alimentos descartados por comerciantes do Mercadão Municipal. - Danilo Verpa/Folhapress

A irresponsabilidade do governo com as contas públicas aumentará a instabilidade econômica, como já ficou evidente com a disparada dos juros e a desvalorização do real desde que o governo decidiu desrespeitar os limites orçamentários.

O resultado mais provável é o aumento da inflação, problema que se agrava desde o ano passado. A expectativa para a alta dos preços ao consumidor em 2021 estava em 8,6% até semana passada, mas já não se descarta que chegue a 10%. Para o próximo ano, os cenários anteriores apontavam para 5%, e o viés das projeções agora é de alta.

A inflação sempre prejudica os mais pobres, mas o impacto da aceleração dos preços no país tem sido mais doloroso por se concentrar em itens essenciais como alimentação, transportes e energia. O preço da comida subiu quase 15% neste ano até outubro, a conta de luz ficou 29% mais cara e o preço dos combustíveis aumentou 38%.

Tipicamente, a inflação brasileira aparece nos serviços, onde parte da alta dos preços se reflete em maior renda para os trabalhadores dessas atividades. Mas desta vez a correção não chega a 4%, por causa dos efeitos econômicos da pandemia .

O impacto no orçamento das famílias também é magnificado pela recessão e pelo desemprego, que impedem repasses aos salários.

Não surpreende, assim, que aumente a parcela dos brasileiros em situação de miséria e fome, como mostra o levantamento mais recente dos pesquisadores da Rede Penssan, que reúne especialistas em segurança alimentar.

De acordo com o relatório, 55% dos brasileiros tiveram algum tipo de restrição alimentar em 2020, alta significativa em relação aos 37% encontrados em 2018 e aos 23% de 2013, o ponto mais baixo da série estatística.

Nesse contingente que se achava em situação mais vulnerável no fim do ano passado, 9% tiveram restrições consideradas graves, o que significa que não se alimentaram por um dia ou mais.

É de se esperar que o problema tenha crescido neste ano, como sugerem as imagens chocantes de pessoas disputando restos de comida descartados por produtores e comerciantes nas grandes cidades.

A tragédia humanitária pode ser minorada com políticas públicas e transferências de renda maiores. Mas também é essencial criar condições para voltar a gerar empregos, o que depende de uma gestão econômica organizada —infelizmente, algo inexistente hoje.

A perda de controle do orçamento público, com a decisão de Jair Bolsonaro de buscar a reeleição a qualquer custo, terá impacto direto no aumento da miséria, assim como sua conduta negacionista foi responsável pela gravidade da pandemia de Covid-19 no país.

editoriais@grupolha.com.br

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