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Eduardo Ribeiro

O Novo e a construção da terceira via

Bolsonaro e Lula dependem um do outro, e ambos se escoram no centrão

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Eduardo Ribeiro

Presidente do Partido Novo

O governo Jair Bolsonaro chega à marca dos mil dias em péssima forma. O presidente experimenta recordes negativos de popularidade, a recuperação econômica prevista para este ano é cada vez mais improvável, os vexames nacionais e internacionais se acumulam e a CPI da Covid descreve um panorama claro dos erros e omissões do governo no combate à pandemia.

Bolsonaro provou-se um fracasso em todas as áreas, mas nada se compara à sua desastrosa política de saúde. Sabotou medidas de contenção à circulação do vírus, apostou em tratamentos ineficazes e retardou a compra de vacinas. Aconselhado por um “gabinete paralelo”, permitiu que a lista de mortos se estendesse a inacreditáveis 600 mil brasileiros.

Sob a justificativa de que a economia sofreria muito com as medidas de isolamento social, o presidente apostou em uma equivocada “imunidade de rebanho”, que teve o efeito inverso, de retardar nossa recuperação econômica. Por fim, há indícios claros de corrupção, sobretudo no caso da compra de vacinas, derrubando a última fachada de honestidade que Bolsonaro ainda tenta emprestar ao seu governo.

A agenda liberal também fracassou. O ministro Paulo Guedes não conseguiu aprovar uma única privatização, nem fez, além da reforma da Previdência, nenhuma outra reforma estrutural decente. Pelo contrário, o Ministério da Economia, refém do centrão e da natureza populista de Bolsonaro, tem passado os últimos meses flertando com a irresponsabilidade fiscal e com o aumento de impostos em nome de objetivos eleitoreiros.

Soma-se a isso as ameaças às instituições democráticas incentivadas pelo presidente, com seus arroubos autoritários como o do 7 de Setembro, que levam instabilidade ao mercado, prejudicando ainda mais a nossa economia e a imagem do Brasil no exterior.

Assim, o candidato eleito na maré do antipetismo vem, ironicamente, contribuindo como ninguém para reabilitar o PT. Bolsonaro e Lula dependem um do outro. O primeiro precisa se vender como única alternativa à volta da esquerda ao poder. O segundo espera enfrentar um Bolsonaro enfraquecido em 2022. Por fim, unem-se ao centrão para enterrar o impeachment e manter o Brasil prisioneiro de uma polarização estúpida e constrangedora.

A coleção de erros do governo dará o tom das eleições de 2022. Resta saber quais forças políticas serão capazes de converter em votos o repúdio e a decepção em relação a Bolsonaro. É nesse contexto que o Partido Novo julga fundamental reafirmar o seu compromisso com a construção de uma terceira via com densidade eleitoral.

Iniciamos mais um capítulo da nossa história, sempre fiéis à visão de mundo e aos princípios éticos que norteiam a legenda desde a fundação. A defesa da democracia, do livre mercado e dos valores liberais; o incentivo ao empreendedorismo e à participação ativa dos cidadãos na política; a limitação do poder e das funções do Estado; e o combate à corrupção e aos privilégios são bandeiras que unificam nossa militância e nossos representantes eleitos.


Bandeiras que não deixam qualquer dúvida quanto ao caminho que o Novo deve seguir: a construção de uma candidatura que derrote Bolsonaro e não permita a volta de Lula e do PT ao poder, com sua política econômica retrógrada e suas práticas corruptas já amplamente rechaçadas pela sociedade.

A defesa de uma candidatura alternativa a esses dois polos, além de ser a única postura condizente com os princípios historicamente defendidos pelo Novo, é também o anseio da grande maioria da população.
Essa é missão central que o Novo se impõe neste momento de definição dos rumos do país.


A um ano das eleições, já é tempo de as legendas apresentarem seus pré-candidatos e programas para a sociedade. O lançamento de pré-candidaturas, quando feito com espírito público, com abertura para o diálogo, sem apelos populistas ou vaidades pessoais, não divide —ao contrário, abre caminho para a convergência e ajuda a amadurecer uma opção de terceira via.

Crises como a que vivemos hoje testam o comprometimento de políticos e partidos com seus princípios e valores. A defesa inequívoca de uma candidatura ainda sem rosto, mas alternativa a Lula e Bolsonaro, é, acima de tudo, uma forma de reafirmar o compromisso do Novo com os princípios republicanos que sempre defendeu.

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