Descrição de chapéu
Ernesto Haberkorn

O preço da longevidade

Sonho de vitalidade ao fim da vida é desafiar a própria natureza

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ernesto Haberkorn

Empresário, 78, é cofundador da Totvs e fundador do ERPFlex e do Grupo Netas; tem mais de 50 anos de experiência no mercado de tecnologia, é autor de 24 livros sobre gestão empresarial e pratica atividades físicas regularmente

No livro de Gênesis, na parte em que trata da genealogia que liga Adão a Noé, fala-se de um homem chamado Matusalém. Este teria vivido 969 anos. Podemos realmente questionar a possibilidade de alguém viver tanto tempo de diversas formas, mas supondo que ele tivesse mesmo alcançado tal idade, cabem outras perguntas: qual era sua condição física e mental em seus últimos anos? Ele ainda andava sozinho? Estava lúcido? Será que viveu seus últimos anos (ou séculos) com autonomia ou teve de ser amparado continuamente? O que ele fazia em sua rotina que possibilitou atingir tal avançada idade?

Há uma outra história, esta certamente uma fábula, sobre a questão da longevidade: um homem encontra uma lâmpada antiga e, ao esfregá-la, surge um gênio dizendo que ele tem direito a dois desejos. O homem pensa e diz: "Quero ser rico e viver para sempre". O gênio concede os desejos e desaparece imediatamente. A fortuna vai aparecendo magicamente ao homem, a partir de muitas oportunidades que surgem em seu caminho. E ele começa a desfrutar de sua riqueza. E os anos passam. Quando ele está com idade avançada, debilitado, lembra desesperado que viverá eternamente e se arrepende de não ter pedido para ter saúde plena enquanto vivesse.

Há mais uma última referência para esta introdução. Um equatoriano, habitante de Vilcabamba (também conhecida como o Vale da Longevidade), onde pairava uma lenda de que todos eram centenários, disse uma vez que "aqueles que se sentam morrem primeiro". Ele queria dizer que a longevidade era resultado de atividade constante. O que não é usado vai se atrofiando. Faz muito sentido, pois a evolução das espécies funciona assim, descartando o que não é utilizado ao longo do tempo. O corpo e a mente também têm um processo evolutivo durante a vida. Ambos vão desligando aquilo que não é utilizado. E é por isso que ambos têm de ser estimulados constantemente.

Sem dúvida, a combinação de longevidade e degradação da condição física e mental não é nada desejável. As pessoas querem "mens sana in corpore sano" ("mente sã em corpo são"). Mas esse sonho de vitalidade ao fim da vida representa um desafio para a própria natureza.

Uma vida equilibrada cobra um preço: o preço de desistir de algumas coisas, como o sedentarismo e a alimentação inadequada, por exemplo. Ter uma vida longeva não é tanto o problema. O problema é ter uma vida longeva gozando de saúde. Isso requer cuidados durante toda a vida, para manter o corpo e a mente saudáveis. A prática de exercícios deve ser constante. Basta fazer exercícios com regularidade e ter uma alimentação balanceada. Uma vida longeva com saúde é fruto de atividade constante.

Não tem como afirmar mesmo se Matusalém, em seus últimos anos de vida, estava lúcido e saudável de corpo e mente, tampouco acreditar em fábulas da lâmpada e do gênio que concede desejos. Porém, não convém duvidar que a longevidade dos habitantes de Vilcabamba se deve a uma rotina ativa: "Aqueles que se sentam morrem primeiro", como dito por um de seus habitantes.

No mais, vale à pena evitar, ao máximo, uma vida desregrada, que certamente causará problemas de saúde que se manifestarão no futuro. E, derradeiramente, citando a Bíblia mais uma vez (um conselho que deveria ser do conhecimento de Matusalém, mesmo este tendo vivido bem antes do apóstolo Paulo, e também dos habitantes de Vilcabamba): nosso corpo é tão importante que é considerado templo de Deus (I Coríntios 3:16–17; 6:19–20).

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.