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Paradoxo das ruas

Protestos contra Bolsonaro se sucedem, mas líderes contam com ele onde está

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Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro na avenida Paulista, na região central de São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

A relativa falta de público vista na avenida Paulista no sábado (2), por ocasião do terceiro protesto contra Jair Bolsonaro desde a jornada golpista do presidente no 7 de Setembro, revela um paradoxo.

O mandatário máximo colhe seu maior índice de reprovação, de 53% segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, mas consegue no embate com seus opositores uma fotografia mais favorável das ruas.

Já o líder em intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não usa sua posição para galvanizar apoios à campanha pelo impedimento de Bolsonaro.

Apesar de já ter defendido de modo protocolar o impeachment, o petista nunca foi a ato em prol da iniciativa apoiada por 56% dos brasileiros. Há cálculo, obviamente.

Noves fora a compreensão política de que as chances de tal processo ser aberto são remotas, o que colocaria em sua conta uma derrota, para Lula interessa mais um Bolsonaro desossado para a disputa em outubro de 2022.

O petista se move pela mesma lógica do presidente. Lula vê a tragédia administrativa presidida por Bolsonaro como um passaporte para derrotá-lo no segundo turno.

Bolsonaro, de sua parte, se agarra à sua base mais fiel, de cerca de 20% do eleitorado, na esperança de que o antipetismo traga de volta os votos conservadores que aderiram à sua aventura em 2018.

Os bolsonaristas que foram às ruas em setembro são mais mobilizáveis, enquanto são muitas as divisões nas hostes oposicionistas.

Símbolo disso foram os ataques covardes a Ciro Gomes (PDT) na Paulista por ativistas de agremiações à esquerda. O presidenciável é um ácido crítico de Lula, e isso é pecado naquele palanque. Depois do ato, Ciro pediu uma trégua com esses setores lulistas em nome da destituição de Bolsonaro.

Parece um tanto tarde para isso, em especial quando não é essa a real agenda: o pedetista tem a inglória missão de suplantar o petista como nome da esquerda e, ao mesmo tempo, ganhar votos ao centro —ele procura sair dos seus usuais 10% das intenções de voto.

Para os postulantes a candidatos da terceira via, o caminho do impeachment já foi mais interessante.

João Doria (PSDB), por exemplo, chegou a ir ao malogrado ato dos remanescentes das ruas que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff (PT). Pediu o impedimento, mas não falou mais nisso e centrou fogo em Lula. Seu objetivo mais realista é um Bolsonaro fraco que lhe abra a vaga no segundo turno.

Os protestos vieram para ficar no cenário político, ainda que com graus variados de desidratação. Enquanto multidões gritam “Fora, Bolsonaro”, porém, presidenciáveis e líderes partidários se posicionam para o cenário oposto.

editoriais@grupofolha.com.br

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