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Empresários insistem na conversão racional de Paulo Guedes à pauta do ambiente

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APUê, BRAZIL. 24/08/2020. Recent deforested area in Apu’, a municipality located along the Trans-Amazonian highway, in the south of Amazonas state.Apu’ is on the front line of agricultural expansion in the Amazon, occupying the seventh position of municipalities more deforested in 2019. Between January and August 2020 alone, 23,186 hectares were deforested, 5.1% more than last year's devastation. The data is from the non-governmental MapBiomas initiative, which monitors land use in the country.
Área desmatada em Apu’, no Amazonas - Lalo de Almeida/Folhapress

Há algo de admirável na persistência de empresários em tentar convencer o governo brasileiro a recuperar o protagonismo que já teve na discussão global sobre ambiente. Com a aproximação da 26ª conferência do clima em Glasgow (COP26), eles voltam à carga, mesmo sem grande chance de êxito.

Espera-se que Paulo Guedes, ministro da Economia, receba na quarta (6) representantes de um grupo de 80 companhias que lançou o manifesto “Empresários pelo Clima”. Elas integram o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.

A lista de signatários fala por si: Alcoa, Amazon, B3, Bradesco, BRF, Carrefour, Embraer, Grupo Ultra, JBS, JSL, Klabin, Korin, Marfrig, Mastercard, Movida, Natura, Nestlé, Renner, Shell, Suzano, Vivo, Votorantim —e outras empresas e entidades seguem aderindo.

Demanda-se ali que o Planalto prepare a retomada do crescimento sob o prisma do cuidado com a base natural que sustenta a economia. Para influenciar Guedes, será apresentado estudo segundo o qual ações sustentáveis podem gerar receita adicional de US$ 123,7 bilhões (R$ 673 bilhões) ao país.

Na mira dos empresários se acha o desmatamento na Amazônia, que tanto macula a reputação brasileira. A dizimação da maior floresta tropical do mundo responde por 48% de toda a poluição agravadora do aquecimento global aqui gerada.

Levantamentos indicam que 98% da devastação ocorre ilegalmente. Com efetivo combate a delitos, o país garantiria já o cumprimento de quatro quintos das obrigações nacionais no Acordo de Paris (2015), tratado que estipula a adoção de metas mais e mais ambiciosas para conter em 1,5ºC o aquecimento da atmosfera.

O retrospecto do governo Jair Bolsonaro, entretanto, mostra-se desalentador. Por dois anos seguidos o desmate na Amazônia se deu na casa de cinco dígitos, acima de 10 mil km², revertendo avanços obtidos ao longo de uma década.

Revigora-se, sob o desmazelo federal, um processo predatório que pôs o Brasil na dianteira entre nove nações amazônicas, conforme relatório divulgado quinta-feira (30). Enquanto no bioma como um todo a média de antropização abarca 15%, aqui a floresta já teve 19% da área alterada por ação humana.

É com esse prontuário ambiental problemático que o país irá a Glasgow, apimentado com o negacionismo de Bolsonaro na matéria. Ainda que seja improvável, a exposição de seu governo à melhor ciência, à diplomacia racional e ao exemplo da elite empresarial deveria bastar para que retomasse a trajetória de nação antes vista como campeã da biodiversidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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