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Atmosfera aquecida levanta nuvens de poeira, insufla queimadas e assusta SP

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Nuvem de poeira atinge Guararapes (SP) - Arquivo pessoal

Franca, Ribeirão Preto, Barretos, Presidente Prudente, Araçatuba, Guaíra, Catanduva, Santo Antônio do Aracanguá. Não foram poucas cidades do interior paulista tomadas em dias recentes por um fenômeno literalmente aterrador —as tempestades de pó conhecidas como haboob (ou habub).

Ocorrência mais comum na vizinhança de desertos, nuvens de partículas se precipitaram também sobre localidades de outros quatro estados (Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Maranhão), como noticiou O Estado de S. Paulo.

Ainda que não seja inédito, não há registro desse tipo de evento atmosférico com tal porte e abrangência no Brasil. A estiagem no Sudeste e no Centro-Oeste tampouco conhece precedentes, sendo a maior das últimas nove décadas.

Ela está na raiz do haboob, que não existiria sem muito solo ressecado em exposição, à espera de chuvas para plantio de cana-de-açúcar, por exemplo, cultura predominante na região paulista afetada.

A seca contribuiu para intensificar queimadas, que consumiram parte da vegetação e da palhada que permaneciam sobre o terreno.

A ventania criou cenário de filme apocalíptico com ao menos cinco mortes. Duas vítimas sucumbiram na queda de parede e árvore; as outras, que combatiam um incêndio, foram cercadas pelas chamas.

O vendaval nasceu de uma frente fria, com a descida violenta de ar denso de camadas superiores da atmosfera em contato com o ar aquecido próximo da superfície.

Tal combinação de fatores está em linha com os eventos extremos previstos por climatologistas como consequência do contínuo aquecimento da atmosfera. Um cenário temido aponta enfraquecimento do transporte de umidade da Amazônia para o sul do continente, uma ameaça para a pujante agricultura da região.

Ocorre, assim, uma sinergia deletéria entre a destruição da floresta amazônica, origem ora arrefecida de boa parte das chuvas, e a da mata atlântica e do cerrado que cobriam São Paulo, deixando a terra nua em parte do ano. Mas há razão para algum alento.

Em três décadas, de 1990 a 2020, a cobertura vegetal do estado aumentou de 13,5% para 22,9%, segundo o Instituto Florestal. O que não se sabe é se tal avanço da regeneração, uma vez mantido e ampliado, poderá mitigar algo do impacto pior das mudanças climáticas.

editoriais@grupofolha.com.br

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