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Troca de marcha

Desaceleração da China reforça pessimismo no Brasil, enquanto outras economias centrais reagem

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Vista aérea de dezenas de prédios altos em construção.
Prédios em construção na China, onde o setor imobiliário é um dos principais motores do crescimento econômico. - Getty Images/BBC News Brasil

A notícia de que a economia chinesa ficou quase estagnada no terceiro trimestre causou alarme na praça, e a preocupação não foi à toa.

O Brasil já lida com fome, inflação e desemprego em alta, risco de racionamento de eletricidade, ameaças de desordem ainda maior nas contas públicas, incompetência na gestão econômica e tumulto político. Um choque extra tornaria ainda mais sombrias as perspectivas socioeconômicas para 2022.

Alguns fatores que explicam o mau desempenho chinês no terceiro trimestre podem ser passageiros. A China adota política de tolerância zero em relação à Covid. Um aumento do número de casos que no Brasil seria imperceptível provocou o fechamento de regiões e unidades importantes de produção.

Uma crise de energia levou a cortes de eletricidade e altas explosivas do preço do carvão e do gás. O risco de falência de empresas do setor imobiliário gerou incerteza e fez o setor de construção pisar no freio.

Por ora, não parece que o crescimento irá desacelerar além do que, faz algum tempo, está visível nas projeções para a economia chinesa.

De 2001 a 2014, a China cresceu em média 10% ao ano. De 2015 a 2019, a taxa baixou para ainda impressionantes 6,7% ao ano. Agora, talvez esteja se encaminhando para o patamar de 5%. A troca de marcha já teve, tem e terá efeitos mais duradouros por aqui.

Quanto às demais economias centrais, a recuperação segue em passo acelerado. No ano que vem, os Estados Unidos e os países da União Europeia devem crescer em torno de 4,5%. No Brasil, o crescimento desde 2017 é dos menores se comparado com a média mundial nas últimas seis décadas, sem contar os períodos de recessão e este ano.

O país não tem conseguido aproveitar as oportunidades criadas pela aceleração da atividade nessas grandes economias.

O Brasil ainda não sabe como lidar com a chamada "transição verde", que oferece possibilidades e riscos --consumo maior de certos produtos e restrições de caráter ambiental a outros, além de transformações tecnológicas que podem tornar o seu parque industrial ainda mais obsoleto.

Decerto um crescimento menor na China afetará a procura de bens da indústria extrativa nacional, como ferro e petróleo, o que em geral pode afetar o nível de investimento. Mas a integração econômica com o restante do mundo, aliás mínima no caso do Brasil, pode se dar por caminhos variados.

De mais fundamental, o país não consegue aumentar a eficiência de sua economia nem preparar o Estado para tarefas novas e mais necessárias. Parado faz décadas, seu problema maior não é um trimestre ruim na China --nem hoje, nem amanhã, nem no longo prazo."

editoriais@grupolha.com.br

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