Quando se assume a tarefa de gerir uma universidade pública, nos deparamos com “rotinas” essenciais: orçamento; recursos humanos; políticas acadêmicas para pesquisa, graduação, pós-graduação, cultura, extensão; internacionalização; administração dos espaços físicos; interface com a sociedade etc. Afora tudo isso, como sói acontecer em universidades públicas, o gestor deve respostas aos órgãos de controle, ao Judiciário e ao Legislativo, o que nos demanda muita energia. Entretanto, tais rotinas são absolutamente lídimas e necessárias.
Essas, porém, diante de suas dimensões inquestionáveis, acabam por solapar questões importantíssimas, tidas como miudezas, coisas simples e comezinhas que habitam o cotidiano e afligem a vivência universitária —somenos apenas para os incautos. O conjunto formador da universidade pública, de qualidade, democrática e inclusiva não se limita à graduação, à pós-graduação e à pesquisa, antes as extravasam. A nossa universidade pública é digna de muito destaque, justamente por ir além daquilo que é oferecido pelas instituições privadas. O gestor universitário público, em qualquer nível, deve responder às demandas da comunidade acadêmica firmemente sob pena de descurar daquilo que é significativo para todos nós: o ser humano.
Na esfera do “miúdo”, do “pequenino”, do “simples”, temos questões potentes sobre as quais o dirigente universitário —não o burocrata— deve e pode observar e administrar, não apenas por sua significação como também por seus efeitos benéficos. Assim, a política de permanência que compreende moradia, alimentação, creche, educação básica, saúde mental e física, transporte, esporte, cultura e lazer deve ter destaque na condução de uma universidade como a USP (Universidade de São Paulo).
Essa política social da universidade para parte da população parece estar deslocada de lugar, já que compete ao Poder Executivo geri-la; entretanto, não o fazendo, cabe sim à universidade assumi-la com responsabilidade, principalmente quando se têm 50% de estudantes ingressos por cotas étnico-sociais. A permanência, portanto, desse grande contingente é prioritária, e o seu fracasso provocaria mais ainda o acirramento das desigualdades num país à beira do colapso cuja responsabilidade tem nome: Jair Messias Bolsonaro.
A Universidade de São Paulo passará, nesses últimos meses de 2021, por um processo eleitoral para sua reitoria. E o futuro reitor ou reitora, eleito no dia 3 de dezembro, será responsável por uma população em grande parte carente pelos próximos quatro anos. Segundo números da própria USP, em 2019 tínhamos: 97.325 estudantes; 13 368 funcionários e 5.800 professores. Seguramente, são grandes as responsabilidades do(a) reitor(a), e não menores as expectativas da comunidade universitária em relação às políticas sociais. Não basta formar o estudante, é mister garantir que ele possa permanecer estudando.
É dever das chapas inscritas para o pleito oferecer proposições claras e efetivas para a permanência —sem descuidar da excelência. A futura reitoria não pode estar apartada de sua responsabilidade social. Esse compromisso é necessário para uma USP efetivamente inclusiva e condição "sine qua non" no Brasil de hoje sob o governo Bolsonaro.
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