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O que a Folha pensa CPI da Covid

Uma CPI efetiva

Comissão no Senado destoou de Câmara e PGR ao escrutinar desmandos do Planalto

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Sessão da CPI da Covid - Adriano Machado/Reuters

Após quase seis meses de atividade, está chegando ao fim a Comissão Parlamentar de Inquérito que, no Senado Federal, apurou fartos indícios de irresponsabilidade, incompetência, desprezo pela saúde dos brasileiros e corrupção por parte de autoridades federais durante a pandemia de coronavírus.

O exercício de imaginar o que teria sido privado do conhecimento público caso a CPI não tivesse existido revela a importância dela. Os múltiplos fracassos da administração Jair Bolsonaro diante da maior catástrofe humanitária a abater-se sobre o Brasil em um século teriam passado incólumes pelas demais instâncias de controle.

Sob a gestão de Augusto Aras, a Procuradoria-Geral da República tomou aversão a adotar quaisquer procedimentos que possam incomodar o presidente da República.

O alinhamento ao Planalto, contrapartida pela arbitragem sobre emendas bilionárias, também marca Arthur Lira (PP-AL). No comando da Câmara, finge que não há razões para fazer tramitar pedidos de impeachment que se empilham.

Restou então, em meio ao deserto de acomodações interesseiras, a CPI de senadores. Embora seja direito líquido da minoria no sistema constitucional brasileiro, ela teve de ser arrancada a fórceps em petição ao Supremo Tribunal Federal.

Os trabalhos da comissão desnudaram indícios de afrontas à saúde pública, seja na negligência do governo na aquisição de vacinas —que teriam salvado milhares de vidas se fossem compradas e aplicadas antes—, seja na conduta irresponsável diante de emergências mortíferas como a de Manaus.

Faltavam oxigênio e leitos, mas as autoridades federais patrocinavam missões de charlatães para oferecer cloroquina aos doentes. O tratamento “precoce”, ineficaz, foi sobejamente propagandeado pelo próprio chefe de Estado.

Não espanta que, nesse contexto de degradação geral, uma arraia-miúda de farsantes tenha sido acolhida no Ministério da Saúde a tratar de negociatas e propinas para mercadejar vacinas inexistentes ou a ser obtidas por meio obtuso, fatos também apurados pela CPI.

As investigações do colegiado, ademais, indicaram a ocorrência de experimentos antiéticos e ilegais com doentes em hospitais, tudo em sintonia com as idiotices cultivadas no ambiente trevoso do Palácio do Planalto e difundidas pelo presidente da República.

Choca perceber em que porões de desumanidade e desídia o governo do Estado democrático brasileiro se enfiou quando foi instado a defender a vida dos cidadãos. Mas é melhor tratar dessa tragédia à luz do dia e permitir que a Justiça e a história façam seu trabalho.

Para isso a CPI da pandemia no Senado contribuiu decisivamente.

editoriais@grupofolha.com.br

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