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Velho normal

Relatos de abusos da ditadura cubana evidenciam equívoco dos que tratam regime com benevolência

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Policiais de uniforme e boina imobilizam homem para prendê-lo, cercados por vários homens jovens, numa rua de Havana, em Cuba.
Manifestante é preso pela polícia durante protestos contra o governo cubano em julho. - Adalberto Roque/AFP

Um novo relatório da ONG Human Rights Watch aponta violações graves e sistemáticas aos direitos humanos de manifestantes que foram às ruas protestar contra a ditadura cubana no dia 11 de julho.

Os atos, raríssimos, surgiram de forma difusa, como manifestações de artistas contra novas restrições impostas pelo governo em Havana. O desabastecimento de remédios e alimentos em plena pandemia deu oxigênio ao movimento.

Segundo a Human Rights Watch, as arbitrariedades atingiram mais de 130 pessoas. A partir de entrevistas telefônicas, colheram-se relatos de prisões arbitrárias, condições desumanas de encarceramento e abuso sexual de mulheres.

Os testemunhos são particularmente inquietantes diante da proximidade de uma nova rodada de atos, marcada para 15 de novembro, declarada antecipadamente ilegal pelo regime comunista comandado por Miguel Díaz-Canel.

Como de costume, o líder culpa os Estados Unidos, os quase 60 anos de embargo econômico à ilha caribenha e os cubanos que fugiram para a Flórida por todos os males que afligem a população. É o velho normal do regime fundado por Fidel Castro em 1959, assim como a violência ante o dissenso.

Se o cerco americano a Cuba é um fóssil vivo da Guerra Fria, a ditadura também o é. Ambos convivem num sistema em que o único prejudicado real é o povo cubano.

A reverberação disso afeta o Brasil, onde a fatia majoritária da esquerda nutre romance com o idílio revolucionário há muito desfeito sob as balas crivadas no paredão.

Fosse restrito a grupelhos, seria só lamentável. Mas o principal apoiador do regime cubano no Brasil é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto para disputar o Planalto em 2022.

Durante os protestos de julho, o líder petista se limitou a dizer que a ditadura não havia feito nada parecido com a violência sofrida um ano antes por George Floyd, homem negro morto pela polícia nos EUA.

Depois, Lula e outros subscreveram carta aberta no jornal The New York Times pedindo o fim do embargo, sem qualquer expressão de empatia com os manifestantes.

Esse déficit democrático da esquerda, associado ao apoio financeiro que a ilha recebeu dos governos do PT, só dá munição à argumentação primária do bolsonarismo de que o petismo é um comunismo à espreita. Lula poderia mudar isso, mas é improvável a esta altura.

editoriais@grupolha.com.br

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