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5G, enfim

Brasil atrasou leilão de forma inconcebível e deverá cumprir prazos exíguos

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Leilão do 5G - Isac Nóbrega/PR

Com um atraso de mais de um ano, o Brasil enfim realizou a primeira rodada de leilões das frequências para a tecnologia móvel do 5G.

O certame correu como o previsto pelo mercado, com grandes operadoras levando os lotes principais e dando espaço a saudáveis disputas por frequências de menor velocidade ou com escopo regional.

Serão cerca de R$ 50 bilhões movimentados inicialmente, dos quais R$ 40 bilhões na forma de investimentos obrigatórios em 20 anos.

Aí entram candidatos a elefantes brancos, análogos aos programas de universalização de orelhões embutidos na privatização da Telebrás nos anos 1990, como a suposta conexão integral do inóspito território amazônico.

Jair Bolsonaro, sempre ele, chegou a fazer proselitismo tosco a partir dessa regra, ao pontificar que a imagem do Brasil no exterior melhoraria porque os índios da região poderiam contar uma versão edulcorada da incandescente realidade da floresta.

Ao menos esses são delírios folclóricos por parte do mandatário, que quase colocou muito a perder neste leilão. O presidente havia dito que a modelagem seria uma decisão pessoal sua, sugerindo que impediria a presença da Huawei.

A gigante chinesa é o bicho-papão do mercado de infraestrutura de redes, dominando 80% das atuais malhas de 3G e 4G brasileiras. Suas concorrentes principais são as europeias Nokia e Ericsson.

Ocorre que, desde a eclosão da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China em 2017, a empresa virou alvo de Washington, que pressionou com sucesso aliados a não adotarem suas redes sob a alegação de que estarão se expondo a espionagem.

Noves fora o fato de que todas as potências bisbilhotam o que lhes é alheio, não há evidências de que a Huawei realmente tenha culpa.

Para o entorno ideológico e militar de Bolsonaro, contudo, isso sempre foi tema central, o que ajudou a atrasar o leilão. Felizmente, suas cabeçadas diplomáticas com a China se mostraram limitadas.

Foi decidido que a rede do governo federal terá de ser construída com material ocidental pelas ganhadoras, que de resto poderão usar infraestrutura chinesa.

A gambiarra destravou o nó político, e o leilão enfim foi em frente. Seu edital, contudo, tem metas que parecem irrealistas exceto para fins de campanha eleitoral: prevê que todas as capitais do país já gozem do serviço em julho de 2022.

Resta então cobrar tal execução exemplar, por ilusória que seja, para tentar recuperar o tempo perdido até aqui. O 5G é o início de uma revolução econômica, assim como o 4G foi antes dele. Modos produtivos e relações interpessoais serão afetadas, e o Brasil já está bastante atrasado nesta corrida.

editoriais@grupofolha.com.br

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