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A ditadura amiga

Ao celebrar eleição de fachada na Nicarágua, PT mina discurso pró-democracia

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Daniel Ortega, ditador da Nicarágua - Cesar Perez/Presidência da Nicarágua/AFP

Se Luiz Inácio Lula da Silva pretende conquistar o eleitor mais ao centro exibindo-se como candidato comprometido com a democracia e o respeito aos direitos humanos, precisa com urgência entender-se com o PT. A nota que o partido emitiu a respeito das eleições na Nicarágua sabota o discurso pró-institucional de seu pré-candidato.

Para os petistas, o pleito nicaraguense foi "uma grande manifestação popular e democrática", cujo resultado confirmou "o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário".

Uma descrição mais próxima aos fatos caracterizaria a disputa, que deu a Daniel Ortega seu quarto mandato presidencial consecutivo, como uma eleição de fachada com o objetivo de legitimar um governo que assume feições cada vez mais ditatoriais.

Os outros cinco candidatos eram todos aliados do governo —os que não eram foram presos. Também estão detidos outros 32 opositores, além de uma centena de sindicalistas, jornalistas e ativistas de direitos humanos. O governo não hesita em utilizar as forças de segurança para reprimir a população.

A eleição nicaraguense, na qual Ortega obteve 75% dos votos, não contou com a presença de observadores internacionais. A maioria das democracias avançadas exprimiu reservas em relação não apenas ao resultado do pleito mas também à escalada autoritária.

Exceções incluem Rússia, Cuba, Venezuela e Bolívia, além, claro, do PT. Até o Peru, do esquerdista Pedro Castillo, entendeu que o pleito "não atende aos critérios mínimos de eleições livres, justas e transparentes estabelecidos pela Carta Democrática Interamericana".

É interessante que Lula pareça ter entendido o que está acontecendo na Nicarágua melhor do que os especialistas do partido. Em agosto, a um canal de TV do México, o ex-presidente disse que seria bom que houvesse alternância de poder naquele país e aconselhou Ortega a jamais abrir mão da democracia.

É difícil saber por que a burocracia petista insiste em defender ditaduras como as de Nicarágua, Cuba e Venezuela. No caso em tela, líderes sandinistas, que estiveram ao lado de Ortega na revolução, passaram a ser perseguidos por ele.

O PT decidiu retirar a nota de seu site após a má repercussão, o que ainda aparenta ser mais uma mostra de pragmatismo do que de genuína mudança de convicções.

editoriais@grupofolha.com.br

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