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Culpas na Amazônia

Mourão admite fiasco de ação militar, mas políticas antiambientais vão além

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O vice-presidente da República, Hamilton Mourão - Bruno Batista - 10.fev.21/VPR

Numa administração que prima por fugir da responsabilidade de governar, como a de Jair Bolsonaro, não deixa de ser motivo de surpresa quando algum de seus integrantes admite publicamente sua culpa por maus resultados obtidos.

Foi o que fez o vice-presidente, Hamilton Mourão, ao comentar a devastação na Amazônia Legal, que neste ano cresceu 22% ante 2020 e atingiu nada menos que 13.235 km², o maior território desde 2006.

"Se você quer um culpado, sou eu. Não vou dizer que foi ministro A, ministro B ou ministro C. Eu não consegui fazer a coordenação e a integração [entre as forças militares e os órgãos ambientais] da forma que ela funcionasse", pontificou o vice-presidente após a mais recente reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal.

Se a causa da nova alta do desmate foi mesmo a falha de integração, como afirma Mourão, ou se os reais motivos são outros, o fato é que a aventura do Exército na Amazônia fracassou rotundamente.

Ao custo de R$ 550 milhões, as três intervenções militares de combate a crimes ambientais fizeram muito barulho, mas não chegaram perto de cumprir o objetivo de coibir o desmatamento na região. Pelo contrário, este só fez aumentar nos últimos três anos.

Nesse período, a média de destruição florestal foi de 11.405 km² por ano. Trata-se de número 51% maior do que o registrado em 2018 e 75% mais alto do que a média do intervalo 2009-2018.

O aumento do corte raso, não surpreende, se deu em meio a uma redução drástica das multas por infrações contra a flora, que chegaram ao menor patamar em 15 anos.

Entretanto, por mais culpa que Mourão possa atribuir a si, a ninguém escapa que as causas atuais dos problemas na Amazônia transcendem a Vice-Presidência.

Em parceria com o ex-ministro Ricardo Salles, Jair Bolsonaro desmantelou os órgãos de controle ambiental ao mesmo tempo em que incentivava o agronegócio predador, garimpeiros, madeireiros ilegais e grileiros que invadem unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas da União.

Essa política antiambiental não apenas teve papel crucial nos resultados ominosos revelados pelos satélites como deixa pouca esperança para o futuro próximo. Em setembro e outubro os alertas de desmatamento já ultrapassaram os dos mesmos meses de 2020. Nessa toada, pode-se esperar mais mea-culpa do vice-presidente.

editoriais@grupofolha.com.br

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