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O que a Folha pensa Rússia

Europa em teste

Crises sobrepostas envolvendo a Rússia expõem as contradições do continente

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Sergei Ilyn/AFP

Pela segunda vez no ano, os EUA acionaram alertas máximos devido à movimentação de tropas russas em áreas próximas da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, Polônia e Lituânia, países que integram a Otan (a aliança militar ocidental) e a União Europeia acusam Moscou de estar por trás da crise na qual refugiados de países miseráveis são atraídos à Belarus e estimulados a entrar ilegalmente no Leste Europeu.

Por fim, a Alemanha suspendeu a certificação de um gasoduto ligando o território russo ao seu, amplamente visto como um instrumento que dará mais poder a Vladimir Putin sobre o mercado energético do qual é ator central na Europa.

Sobrepostas em camadas, essas crises formam um tríptico coerente de embate geopolítico entre a sempre assertiva Rússia e o Ocidente.

Não é filme novo, e a procura por culpados os achará de ambos os lados. Em sua etapa atual, contudo, o sempre vilanizado líder russo pode até ser acusado de explorar contradições europeias, mas certamente não trabalha com matéria-prima fantasmagórica.

No caso ucraniano, Putin sugeriu nesta quinta (18) que o Ocidente fabrica a crise ao aumentar sua atividade militar no vizinho, em vez de buscar uma solução baseada nos acordos que tentaram colocar fim ao choque entre Kiev e os separatistas pró-Rússia que controlam o leste do país desde 2014.

Ele está certo, mas também é fato que a anexação da Crimeia e a guerra civil congelada no leste são imperativos do Kremlin, que não aceita a Ucrânia como parte da Otan, ameaçando suas fronteiras.

Em Belarus, ainda que ajude a aliada a se vingar das sanções ocidentais usando refugiados como armas, Moscou está correta ao criticar os pesos e medidas diferentes de Bruxelas sobre imigração.

Na Polônia, quem ultrapassa a fronteira está sujeito a desumanidades. A crise, de todo modo, baixou de tom com o início de negociações lideradas pela UE —que precisa ser ativa se não quiser se equivaler à ditadura brutal de Minsk.

Na questão do gás, a hipocrisia ocidental é escancarada. Os dois ramais do sistema Nord Stream enfrentaram críticas há anos, mas a necessidade europeia, alemã em particular, de garantir acesso ao produto com bons preços sempre ultrapassou considerações geopolíticas. Deverá ser assim novamente.

Putin segue como o vilão favorito do Ocidente, embora seja um daqueles que expõem as contradições de seus oponentes.

editoriais@grupofolha.com.br

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