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Fernández em xeque

Presidente argentino vê oposição fortalecida e fratura em coalizão após eleições

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O presidente da Argentina, Alberto Fernández - Natacha Pisarenko/AFP

O desempenho dos peronistas aliados ao presidente argentino Alberto Fernández nas eleições legislativas foi melhor do que prenunciavam as primárias, em setembro. Ainda assim, o pleito configurou derrota dos governistas e mostrou a insatisfação dos votantes com a condução do país vizinho.

Pela primeira vez desde 1983, o peronismo perdeu o controle do Senado, o que certamente tornará ainda mais complexa a tarefa de administrar pelos próximos dois anos uma crise já profunda.

Os eleitores foram às urnas no domingo (14) com a finalidade de renovar um terço do Senado e metade da Câmara. A coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, do ex-presidente Mauricio Macri, avançou e se fortaleceu para as eleições presidenciais de 2023.

Deve garantir 31 cadeiras no Senado, ante 35 da aliança governista Frente de Todos —que perdeu 6 postos— e 6 de outros partidos.

Na Câmara, a vantagem da agremiação de Macri foi menor, mas a oposição venceu uma corrida apertada na província de Buenos Aires, tradicionalmente peronista.

O presidente deve se ver obrigado a fazer concessões à oposição na difícil renegociação da dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que precisa ser aprovada pelo Legislativo.

Ao mesmo tempo, precisa lidar internamente com o grupo da vice-presidente Cristina Kirchner, mais à esquerda, que quer a manutenção de gastos sociais diante do ajuste fiscal defendido pelo ministro da Economia, Martín Guzmán.

Eleito em 2019 em aliança com os kirchneristas depois do decepcionante governo do liberal Macri, Fernández tampouco logrou melhorar a vida dos argentinos.

A gestão da pandemia, com frequentes lockdowns e ajuda emergencial considerada insuficiente por parte da sociedade, arranhou a popularidade do presidente.

A insatisfação popular também se explica pelo estado da economia. A cotação do peso despenca, e a inflação anual passa de 50%, corroendo o poder de compra de salários e de auxílios oficiais, enquanto o governo apela para um congelamento de preços fadado ao fracasso. Mais de 20% dos argentinos não têm trabalho.

Após as primárias em setembro, Fernández se viu obrigado a fazer uma reforma ministerial, e as fraturas internas da coalizão ameaçam agora se agravar.

Nesta segunda-feira (15), os mercados internacionais reagiram com otimismo ao resultado do pleito, diante da perspectiva de que uma oposição fortalecida pressione por uma política monetária e fiscal mais ortodoxa.

Não se descarta, porém, que o cenário leve Fernández a adotar ainda mais medidas populistas, receita que deve agravar a combinação tóxica de recessão e inflação.

editoriais@grupofolha.com.br

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