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Impasse radical

Governo esquerdista peruano leva três meses apenas para aprovar o ministério

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O presidente do Peru, Pedro Castillo - Xinhua/Prensa Presidencia

Governantes costumam desfrutar de certa trégua política nos primeiros dias de mandato, momento em que aproveitam para dar o tom da nova administração, cumprir promessas de campanha e lançar medidas de impacto. Não no Peru, onde o presidente Pedro Castillo só conheceu crises e turbulências em seus três meses à frente do país.

Desde que assumiu o poder, o novo mandatário vem batalhando para conseguir o mínimo: formar um gabinete funcional que lhe permita, de fato, começar a governar.

No Peru, diferentemente do Brasil, o primeiro escalão do Poder Executivo, após ser nomeado pelo presidente, ainda precisa ser confirmado pelo Congresso.

Coalhado de nomes controversos, o primeiro gabinete proposto por Castillo, um neófito na política, foi aprovado somente após duas longas sessões e em meio a um ambiente de alvoroço, com manifestantes favoráveis e contrários ao governo protestando do lado de fora do Legislativo.

O principal ponto de conflito, naquele momento, deu-se em torno do indicado para ocupar o cargo de primeiro-ministro, Guido Bellido, investigado por apologia ao terrorismo e envolvido num suposto esquema de cobrança de subornos de comerciantes e fazendeiros.

Membro da ala mais radical do partido esquerdista Perú Libre, pelo qual Castillo se elegeu, Bellido logo acumulou atritos com o presidente e declarações polêmicas, como a ameaça de nacionalizar jazidas de gás exploradas por um consórcio privado.

Pressionado pelo Congresso, Castillo promoveu em outubro uma ampla reforma governamental, na qual substituiu o premiê e trouxe nomes ligados à esquerda moderada. Diante da perda de espaço, o Perú Libre estrilou. Maior bancada do Parlamento, com 37 das 130 cadeiras, a agremiação ameaçou votar contra o novo gabinete.

A promessa foi cumprida em parte. Na quinta (4), o novo ministério foi ratificado por 68 deputados, apenas dois a mais que o necessário, e com o voto contrário de quase metade da legenda presidencial.

As dificuldades de Castillo, assim, derivam sobretudo da tarefa de conciliar os interesses e a agenda radical do partido que afinal sustenta seu governo com a busca pela moderação, crucial para obter maioria no Congresso e melhorar o diálogo com o setor produtivo.

Aparentemente não será com Castillo que o Peru, depois de vivenciar uma verdadeira vertigem política nos últimos anos, alcançará, enfim, a estabilidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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