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Frei Betto

Lula e Boulos

Na conjuntura trágica atual, espera-se discernimento e união da esquerda

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Frei Betto

Escritor, é autor de ‘Espiritualidade, Amor e Êxtase’ (ed. Vozes) e “Diário de Quarentena" (Rocco), entre outros livros

Vejo com preocupação militantes petistas afirmarem que não apoiarão a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) ao governo de São Paulo. A esquerda não aprendeu nada com o que aconteceu no Brasil nos últimos anos? Não aprendeu a identificar o compromisso de cada um e a importância de uma frente ampla?

Boulos tem trajetória construída ao lado dos sem-teto. Sou testemunha de sua abnegação. Foi viver na periferia e lutar com o povo mais sofrido. É uma liderança com pé no barro, faz o que prega. A coerência é valor fundamental para todos nós que queremos mudar a sociedade.

Guilherme Boulos e o ex-presidente Lula visitam a ocupação Povo Sem Medo, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), em São Bernardo do Campo (SP) - Bruno Santos - 21.out.17/Folhapress


Boulos esteve ao lado de Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos se omitiram, com medo de prejudicar sua imagem frente à opinião pública. Foi às ruas defender Dilma contra o golpe. Esteve no ABC, junto com milhares de sem-teto, para lutar contra a prisão injusta do ex-presidente. Visitou Lula no cárcere de Curitiba. O próprio líder petista já me manifestou sua admiração e carinho por Boulos.

Na eleição à Prefeitura de São Paulo, Boulos mostrou ser uma grande liderança da nova geração de políticos progressistas. E isso incomodou, em especial setores da esquerda que ainda não se abrem às novas lideranças jovens. A esquerda precisa ter a capacidade de se renovar, de mostrar caras novas. E Boulos representa essa renovação.

Na trágica conjuntura em que o Brasil se encontra é triste ver que ainda há quem se apega a diferenças menores, enxerga inimigos onde não existem. Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo, em "Grande Sertão, Veredas", afirma que, ao longo da vida, a pessoa perde o medo de viver e morrer. O medo maior, então, é de "nascer", o que significa viver situações inéditas que simbolizam novos surgimentos esperançosos, como a figura política de Boulos. Não há que ter medo desta nova liderança. Estou convicto de que Lula é a pessoa mais preparada para derrotar Jair Bolsonaro e tentar reconstruir o país. E ele sempre soube fazer isso valorizando seus aliados.


Boulos tem todo o direito de lançar sua candidatura ao governo paulista, principalmente após a bela campanha que fez na capital ao lado de Luiza Erundina. Considero a melhor chapa: Lula para presidente e Boulos para governador. Seria um sinal de abertura à renovação.

Se o PT tomar outra decisão, paciência, é seu direito. Mas acredito que o momento histórico cobra unidade. E, caso não haja acordo, o mínimo que se espera é respeito. Ataques aos que sempre estiveram do mesmo lado e desconfianças de traição não são bons caminhos —exceto para a direita, que torce pelo fracasso da esquerda.

Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL), que se preparam para disputar o governo de São Paulo - Kleyton Amorim/UOL/Folhapress e Simon Plestenjak/UOL


Em minha trajetória aprendi a valorizar mais o compromisso social que a filiação partidária. Essa bússola permite manter-me firme com os valores que abracei, tendo em vista o sonho de uma sociedade justa e solidária.

Espero votar, ano que vem, em Lula e Boulos. E que os partidos da esquerda tenham discernimento para construir um ambiente de respeito e unidade, focando suas críticas naqueles que, de fato, são inimigos da maioria do povo brasileiro.

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