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Pepitas de incúria

Queima de balsas no Madeira pouco afeta impacto do garimpo ilegal na Amazônia

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Balsas de garimpeiros são queimadas no rio Madeira - Reprodução

O escândalo do garimpo no rio Madeira seguiu um enredo habitual: imagens de centenas de balsas correram o mundo para agravar a péssima imagem do Brasil no setor ambiental; redes sociais entraram em polvorosa; o governo Jair Bolsonaro organizou rápida operação midiática; nada se resolveu.

De novidade houve a queima de 69 embarcações (algumas já desativadas) pela Polícia Federal, em ação com Marinha e Ibama —pequena reviravolta nas políticas defendidas pelo presidente, que sempre incensou garimpeiros e deplorava que fiscais incinerassem equipamentos de mineradores ilegais.

A maioria das barcaças enfileiradas nas impressionantes fotografias já se encontrava longe da foz do rio Madeira em Autazes, a 110 km de Manaus. Elas haviam confluído dias antes ao local da "fofoca", ou seja, dos rumores de que alguém ali havia "bamburrado" (encontrado ouro), mas se dispersaram assim que explodiu a repercussão negativa da flotilha.

Há iniciativas para regularizar operadores de dragas nesse afluente do Amazonas, mas quase todo o garimpo nele realizado é ilegal.

Usa-se muito mercúrio para separar o mineral precioso da ganga, sendo que o metal pesado se acumula nos peixes e ameaça a saúde humana; além disso, a dragagem tem impacto ambiental ao alterar características do rio, por exemplo criando bancos de areia.

Mesmo sem o intuito de minimizar a ilegalidade e o dano ao ambiente praticados, cabe ponderar que o garimpo no Madeira está longe de ser o principal problema da atividade. Bem mais danosa para comunidades da região se mostra a mineração clandestina em terras indígenas.

"Clandestina" é figura inócua de linguagem, porque até de satélites se pode constatar a devastação de pequenos igarapés por escavadeiras. Tais tratores, conhecidos como PCs, podem custar R$ 500 mil (ante R$ 30 mil necessários para equipar uma balsa), mobilizando capital de que só criminosos graúdos são detentores.

Tolhido pela predileção de Bolsonaro por garimpeiros, o governo federal pouco ou nada faz para expulsar aqueles que levam malária, mercúrio e abuso sexual para a vizinhança de aldeias. Há estimativas de que só na Terra Indígena Yanomami haja 20 mil desses invasores, tolerados e incentivados como são pelo Planalto.

editoriais@grupofolha.com.br

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