Descrição de chapéu
O que a Folha pensa inflação

Perto da estagflação

Inflação sobe no mundo, mas no Brasil é agravada por governo e risco de recessão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Placa de preços de um posto de combustíveis
Preços de combustíveis em posto - Andre Coelho/Epa

A aceleração abrupta da inflação neste ano é um fenômeno global, que abarca até países acostumados ao problema oposto, como o Japão.

Na maior parte do mundo, entretanto, as pressões de preços, que derivam dos deslocamentos no consumo e na produção por causa do impacto da pandemia, têm sido acompanhadas pela perspectiva de crescimento econômico também elevado no próximo ano.

Já no Brasil a situação é mais desfavorável. A combinação de inflação alta e risco recessivo sugere retorno a um quadro de estagflação infelizmente comum no país.

Os números são aterradores. O principal índice do custo de vida, o IPCA, subiu 1,25% em outubro, a maior taxa para o mês desde 2002, e acumula 10,67% em 12 meses. A generalização da carestia para itens como serviços sugere maior inércia e já contamina as projeções para 2022 —que se aproximam de 5%, bem acima da meta de 3,5%.

A consequência é uma maior dificuldade para o Banco Central fazer a inflação retornar aos objetivos traçados, e os juros, por isso, deverão subir mais. Não se descarta que a Selic chegue a 11% ou até mais nos próximos meses.

O quadro é agravado pela ausência de direção da política econômica, algo de resto confirmado pela tramitação da PEC do Calote, que fura o teto de gastos e eleva a dívida pública —receita para o aperto nas condições financeiras.

É essa configuração de fragilidades e desconfiança que distingue negativamente o Brasil. Embora a inflação elevada seja desconfortável em todos os lugares, lá fora ao menos há confiança na transitoriedade do fenômeno.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o índice de preços ao consumidor chegou a 6,2% em 12 meses, mas espera-se retorno ao ritmo normal de 2% ao ano. Tampouco há risco de crédito do governo.

É por isso que o Federal Reserve pode se dar ao luxo de ser paciente e não subir os juros até meados do ano que vem, quando se espera que o mercado de trabalho já esteja próximo da normalidade.

Na soma geral, as projeções mais comuns apontam para alta do Produto Interno Bruto americano próxima a 3,5% em 2022.

Aqui, empresas e consumidores não têm a mesma expectativa. A inflação é mais dura que alhures, pois foi agravada pela desvalorização do real e pode se perpetuar pela indexação. Ao mesmo tempo, os juros cada vez mais escorchantes reduzem o crescimento e a perspectiva de retomada do emprego.

A estagnação parece contratada e já se faz notar na perda de ritmo mesmo em áreas até recentemente mais defendidas, como as vendas no varejo. As chances de melhora dependem da política econômica que emergirá das eleições.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.