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Sérgio Bairon

Por uma cultura inclusiva e diversa na universidade

Apesar de conquistas recentes, USP ainda tem inúmeras dívidas

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Sérgio Bairon

Professor associado da ECA (Escola de Comunicações e Artes) e coordenador do Diversitas da FFCLH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP

A diversidade na universidade não é apenas uma temática ou postura epistemológica. É ação, agilidade, reparação de injustiças, acolhimento e, sobretudo, abertura de espaços institucionais estrategicamente dialógicos. A diversidade na universidade não é da universidade para a universidade, mas voltada para uma profunda interlocução com as demandas da sociedade. É um conceito-ação que reúne pesquisa, ensino, cultura e extensão, voltados à transformação do cotidiano. Mesmo que esse cotidiano não seja tão diverso, ainda, como no caso da Universidade de São Paulo (USP).

Apesar das conquistas recentes, a USP tem inúmeras dívidas com a diversidade, como por exemplo, apenas 2% de professores(as) negros(as). Em 2021, mais de 50% dos ingressantes são oriundos do ensino médio público. Considerar a diversidade numa sociedade ainda tão marcada pela desigualdade pressupõe compreender as transformações necessárias e a importância da ética como balizadora das relações sociais e interpessoais. A cultura e os valores a serem cultivados devem reconhecer e respeitar as diferenças, sejam elas étnicas, raciais, de gênero, culturais, de habilidades, garantindo-se a dignidade e não discriminação, como direito humano fundamental. A diversidade é traço fundamental na construção da identidade nacional.

As duas chapas que concorrem à reitoria da USP —"USP Viva" e "Somos Todos USP"— destacam o tema da diversidade. No entanto, há uma diferença fulcral importante. De um lado, uma proposta centralizadora em nível administrativo e, de outro lado, uma abertura dialógica com foco na participação social.

A chapa "USP Viva" propõe a criação de uma pró-reitoria "para coordenar, centralizar e apoiar políticas transversais na Universidade". A pró-reitoria irá "cuidar da diversidade, da equidade e do pertencimento" e "centralizará informações e ações".

A chapa "Somos Todos USP", propõe a criação de um Conselho Especial de Inclusão e Diversidade, composto da seguinte forma: "pelos três segmentos acadêmicos (estudantes, docentes e servidores), especialistas e estudiosos com reconhecida trajetória no campo, representantes destacados da sociedade civil e lideranças de movimentos atuantes na universidade."

Destaca-se como as duas chapas propõem-se a endereçar a questão de forma bastante distinta. A criação de uma nova pró-reitoria, ampliação da estrutura administrativa interna ("USP Viva"), em contraponto a um conselho participativo, interna e externamente, diverso por natureza, permeável e ágil na interação e promoção da integração entre a USP e a sociedade. Um conselho constitui-se como um espaço consultivo e de representação, e no caso da proposta em análise, amplamente participativo tanto em relação aos diferentes segmentos internos da comunidade acadêmica da USP como em relação à sociedade.

Em vez da criação de uma nova pró-reitoria, a instituição de um conselho da diversidade, com autonomia e contato direto com a reitoria, que conte com núcleos de ação e com a participação de lideranças da universidade, bem como as participações de líderes e organizações da sociedade civil, representa um caminho mais inclusivo para alcançarmos efetivamente a diversidade que todos almejamos.

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