Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Trumpismo sem Trump

Vitória republicana na Virgínia mostra vigor da retórica usada por ex-presidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O candidato republicano ao governo da Virgínia, Glenn Youngkin, em encontro com apoiadores durante a apuração dos votos - Chip Somodevilla - 2.nov.21/Getty Images/AFP

Realizada no ano seguinte ao do pleito presidencial, a eleição para o governo do estado americano da Virgínia costuma ser encarada como uma espécie de referendo acerca do ocupante da Casa Branca.

Daí que a vitória do candidato republicano, Glenn Youngkin, soe inevitavelmente como um alerta tanto para Joe Biden como para o seu Partido Democrata. Ainda mais por ter se dado num estado em que o atual mandatário venceu com uma vantagem de nada menos de dez pontos percentuais.

Mais do que um reflexo do início errático do governo Biden —marcado pela caótica retirada das tropas do Afeganistão, uma nova onda de Covid-19 e a dificuldade para aprovar seus projetos no Congresso—, o triunfo do postulante republicano é também um sinal claro da sobrevida do trumpismo na política dos Estados Unidos.

Mas um trumpismo, diga-se, sem a presença de Donald Trump.

Seguindo o modelo das chamadas guerras culturais, habilmente explorado pelo ex-presidente, Youngkin centrou sua campanha na questão educacional, forjando para si o papel de protetor dos mais jovens diante de supostas doutrinações no ambiente escolar.

O republicano defendeu a ampliação da presença dos pais na definição do conteúdo escolar e prometeu proibir o ensino da teoria crítica da raça (escola de pensamento que estuda como o racismo permeia o funcionamento das instituições), ainda que esse tema nem faça parte do currículo estadual.

Ao mesmo tempo em que era endossado por Trump e discursava sobre temas caros aos seus apoiadores de áreas rurais e pequenas cidades, Youngkin buscou se dissociar da figura do ex-presidente, mantendo-o longe do estado e de sua campanha —numa estratégia bem-sucedida para atrair também o eleitor moderado dos subúrbios.

Embora o revés democrata na Virgínia possa ser contrabalançado por triunfos importantes em outros locais, como o obtido nesta semana na cidade de Nova York, que escolheu pela segunda vez na história um prefeito negro, a eleição de Youngkin representa, ao fim e ao cabo, mais do que uma vitória pontual de seu partido.

Ela fornece algo como uma receita para os republicanos nas eleições legislativas de 2022, capaz de arregimentar tanto eleitores leais a Trump como antagonistas dele. Resta saber se o ex-presidente, conhecido pelo ego estelar, aceitará o papel de coadjuvante.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.