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O que a Folha pensa AIDS

Aids, 40

Brasil se destacou no tratamento e não pode retroceder, dada a falta de vacinas

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Pesquisadoras do laboratório de investigação médica da USP, que fazem parte do grupo que busca novas soluções para prevenção e cura da Aids - Divulgação

Quatro décadas transcorreram desde que surgiram nos EUA os primeiros casos de um misterioso "câncer gay", como foi de início discriminatoriamente alcunhada a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids, na abreviação em inglês). Sua história está pontilhada de sucessos e fracassos.

A doença hoje pode ser bastante bem controlada quando há diagnóstico rápido de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Combinações de antirretrovirais permitem vida quase normal, e há poucos dias novo avanço se deu com a aprovação pela Anvisa de um comprimido único para tratamento imediato.

Algo em torno de 38 milhões de pessoas no mundo vivem com Aids, que já matou outros 37 milhões desde 1981. Mais de 360 mil desses óbitos ocorreram no Brasil, onde ainda há 694 mil pacientes em tratamento.

Mesmo com tais cifras sombrias, há notícia auspiciosa: as mortes caíram no país de 12.151 em 2010 para 10.417 em 2020 —uma contração de 29,9% na taxa relativa, que recuou de 5,7 a 4,0 por 100 mil.

Tal evolução favorável se deve à ação decidida do SUS, mesmo com a resistência de setores conservadores contra campanhas de esclarecimento, como as que incentivavam o uso de preservativos.

Permanece alta a proporção de jovens nos casos de infecção, com 53% na faixa de 20 a 34 anos. Ou seja, a síndrome continua gerando uma legião de doentes que viverão muitos anos com ela.

Por mais que a moléstia seja tratável, a medicina não tem remédio eficaz contra o preconceito social, que sobrevive até em ambientes de atendimento de saúde. Levantamento com 1.784 soropositivos brasileiros indicou que 64% relatam já ter enfrentado algum tipo de discriminação, 15% nos próprios serviços de saúde.

Outra fonte de preocupação está na queda de 25% na detecção de novos casos de HIV/Aids no Brasil durante a pandemia. Foram identificadas 32,7 mil infecções no país em 2020, ante 43,3 mil em 2019, sinal de que aí também a atenção ordinária de saúde saiu prejudicada pela drenagem de recursos e pelas limitações de mobilidade.

Mesmo após quatro décadas e bilhões de investimentos em pesquisa, a Aids não pode contar com uma vacina efetiva. Sem ter como imunizar, resta ao poder público cuidar e amparar, mantendo a tradição que fez do Brasil exemplo para o mundo no enfrentamento do HIV.

editoriais@grupofolha.com.br

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