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O que a Folha pensa inflação

Base de comparação

65% percebem piora da economia, o que relativiza expectativas de melhora adiante

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Fila para o Auxílio Brasil, em São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

O ano que vai chegando ao fim deveria consolidar a recuperação da economia brasileira após o impacto devastador da Covid-19. Em vez disso, 2021 foi marcado por uma série de desatinos que comprometem os resultados presentes e lançam incertezas sobre o futuro.

Jair Bolsonaro, com o auxílio de acólitos, omissos e interesseiros, promoveu o desastre atuando em três frentes: com a sabotagem à política sanitária, que agravou a epidemia; ao semear o caos político e institucional em uma ofensiva golpista, frustrada graças às instituições; quando rompeu o teto do gasto público em busca da reeleição.

As consequências não tardaram. Interrompeu-se a trajetória de retomada da expansão do Produto Interno Bruto, que estava em curso desde o terceiro trimestre do ano passado. Conforme medição do Banco Central, a atividade econômica começou a se retrair em março e hoje se encontra em nível abaixo do pré-Covid.

Espera que o PIB feche 2021 com expansão de 4,6%, o que não significa grande coisa após a queda de 4,1% no ano anterior. Para 2022, projeta-se um mísero 0,5%, o que mantém o país num ciclo de paralisia que já dura dez anos.

Pior, a perda geral de confiança provocou uma escalada das cotações do dólar que tornou a inflação, em alta no mundo, mais grave no Brasil. Os preços acumulam alta de dois dígitos em 12 meses e levam a uma elevação correspondente dos juros do Banco Central.

A descrever de modo mais palpável e cruel a combinação de economia estagnada e carestia, a fome avança. Segundo o Datafolha, 26% dos brasileiros dizem não conseguir alimentar suas famílias de modo satisfatório —e a proporção chega a 37% entre aqueles com renda até dois salários mínimos.

Também de acordo com a pesquisa do instituto, 65% dos entrevistados percebem que a situação do país piorou nos últimos meses, um percentual que decerto pesa na reprovação majoritária a Bolsonaro, e 47% relatam que o mesmo se deu com sua condição pessoal.

Não deixa de ser notável a cifra de 42% para os quais o quadro nacional vai melhorar no curto prazo, mas a base de comparação, como se viu, é baixa. Ademais, a maioria crê que o cenário permanecerá como está (35%) ou vai piorar (20%).

Restam por serem conhecidos os impactos do necessário Auxílio Brasil e do debate eleitoral sobre a confiança dos agentes econômicos, o consumo e o investimento. Em qualquer hipótese, as bases para um crescimento sólido, ora enfraquecidas, dependerão das decisões do próximo governo.

editoriais@grupofolha.com.br

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