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Dois biólogos

Amazônia preservada deve muito aos naturalistas Thomas Lovejoy e Edward Wilson

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Confluência dos rios Ituí e Itacoaí, no Amazonas - Lalo de Almeida/Folhapress

O ano termina com dupla notícia ruim para a preservação da natureza: morreram os mais importantes biólogos na defesa da biodiversidade, Thomas Lovejoy e Edward O. Wilson. A Amazônia, floresta tropical mais conservada do planeta, deve muito aos dois naturalistas.

Lovejoy tinha 80 anos, 56 deles dedicados à floresta amazônica do Brasil, principalmente. Aportou aqui em 1965 para pesquisas de doutorado na Universidade Yale e nunca mais se distanciou.

Foi sua a iniciativa do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, em 1979, prolífica parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Em 2013 o projeto mudou de nome e se tornou o Centro de Biodiversidade da Amazônia.

É o mais antigo programa de estudos sobre o efeito da fragmentação de florestas chuvosas. Nos talhões minuciosamente monitorados colheram-se os dados de centenas de mestrados e doutorados, resultando na publicação de mais de 700 artigos científicos.

O vocábulo "biodiversidade" não se encontra por acaso no nome do centro. Lovejoy cunhou com Eliott Norse, nos anos 1980, o conceito de diversidade biológica (riqueza de espécies) como patrimônio natural a ser preservado, rede de relações ecossistêmicas resultantes de milhões de anos de evolução.

A bacia amazônica, com 7 milhões de km² (mais de 4 milhões de km² no Brasil), reúne a maior concentração de plantas, animais e microrganismos do planeta. A floresta abriga ainda gigantesco estoque de carbono, e sua destruição acelerada se tornou tema de proa no debate mundial sobre mudança climática —em boa medida, pelos esforços de Lovejoy

Edward Wilson, morto aos 92, teve o mérito de contrair a noção acadêmica numa só palavra, que ganharia o mundo e as manchetes: biodiversidade. Consagrou-a com o livro "A Diversidade da Vida", lançado no mesmo ano em que se realizava no Brasil a cúpula mundial do ambiente Eco-92.

O especialista em formigas escreveu belas páginas sobre sua experiência na floresta amazônica e decerto a tinha em mente ao propor preservar 50% de cada ecossistema da Terra.

A degradação da região nos leva ao limiar de um colapso do bioma conhecido como "dieback" (um outro conceito capitaneado por Lovejoy), espiral de ressecamento da floresta que a tornaria parecida com uma savana. Para honrar seu legado e o de Wilson, compete a nós impedir que isso ocorra.

editoriais@grupofolha.com.br

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