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O que a Folha pensa juros

Fed contra a inflação

Banco central americano prefere ser conservador ao indicar aperto nos juros

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Sede do Federal Reserve, em Washington - Kevin Lamarque/Reuters

O agravamento da inflação é global e já mobiliza uma revisão da conduta de diversos bancos centrais. Em reação à escalada dos preços ao consumidor, que ameaça contaminar as expectativas de longo prazo, o americano Federal Reserve indicou que será menos paciente.

Além de antecipar o final de suas intervenções no mercado de títulos públicos, agora esperada em março, o Fed projetou alta da taxa básica de juros de 1,5 ponto percentual até o final de 2023 —com metade desse percurso a ser percorrido no ano que vem.

Para os padrões do banco central emissor da principal moeda mundial, que baliza cerca de 70% das transações comerciais, trata-se de uma mudança substancial.

É cedo para afirmar que os Estados Unidos estão diante de um cenário de inflação persistente. Famílias e empresas, acostumadas à estabilidade, tendem a não incorporar saltos pontuais de preços em seus cálculos de longo prazo. Tampouco existem no país mecanismos automáticos de indexação.

Mesmo assim, a situação preocupa. A taxa para os consumidores chegou a 6,8% nos 12 meses encerrados em novembro, patamar mais elevado em décadas.

A maior parte das pressões é concentrada em bens duráveis e itens como alimentos e energia, cuja demanda foi impulsionada pela pandemia. O fenômeno deve arrefecer, mas restam incertezas.

O risco é que a inflação se revele mais duradoura, o que pode alterar o comportamento do setor privado. Com a economia quase de volta ao pleno emprego e transformações em curso no mercado de trabalho, parece possível que os salários passem a subir mais.

O melhor desempenho da renda sem dúvida seria uma boa notícia ante o quadro atual de desigualdade social elevada, mas para o Federal Reserve pode significar uma dificuldade maior para manter a variação de preços em torno da meta, fixada em 2% ao ano.

A boa notícia é que por ora os mercados financeiros ainda não anteveem que a instituição terá de elevar os juros acima de 2,5% ao ano ao final do ciclo. Dados os riscos, porém, o banco central decidiu retomar as rédeas, considerando que adotar providências mais cedo diminui a probabilidade de ser obrigado a fazer mais depois.

Muitas das dúvidas devem ser esclarecidas em 2022, que promete ser mais difícil para mercados acostumados a estímulos que agora começam a ser revertidos.

editoriais@grupofolha.com.br

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