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Douglas Belchior

Lula e Haddad

Cenário de devastação deveria provocar um suficiente choque de realidade

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Douglas Belchior

Professor de história e cofundador da Uneafro Brasil

Temos o desafio e a necessidade de construir uma frente ampla para, no curto prazo, derrotar Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e, no longo prazo, enfrentar o bolsonarismo —feito erva daninha, ele continuará brotando nas esquinas do nosso país.

Se há uma força política trabalhando efetivamente para essa construção e que está dialogando com os diferentes, apesar de tantas feridas ainda abertas, são o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o Partido dos Trabalhadores.

O ex-presidente Lula cumprimenta o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad - Pedro Ladeira - 9.out.17/Folhapress

O exercício de construção dessa frente tem se desenvolvido pelo país afora e encontra, em São Paulo, uma discussão acalorada sobre qual seria a candidatura progressista unitária para o governo do estado.

O cenário de devastação em que vivemos deveria significar um choque de realidade suficiente para se perceber que ter um partido forte e estruturado, presente em todo o estado e com base social consolidada, além de um bom e experimentado postulante —acompanhado da candidatura presidencial do principal oponente de Bolsonaro—, são elementos fundamentais para a viabilidade de uma chapa contra o conservadorismo paulista.

Coube a Fernando Haddad, em uma eleição absolutamente atípica, em 2018, enfrentar Jair Bolsonaro e alimentar nossa esperança até o último instante daquele fatídico segundo turno. Ou esquecemos disso?

Foram quase 48 milhões de votos em todo o país. No estado de São Paulo, quase 7,5 milhões. Na capital paulista, perto de 2,5 milhões. Se o argumento é lastro eleitoral, aí estão os números.

Haddad foi prefeito de São Paulo e, entre erros e acertos, o saldo é positivo. Prêmios internacionais para diversas políticas públicas, como o Plano Diretor e o programa Braços Abertos. Na área da educação, organizou um time de profissionais formados no Encontro Nacional da Juventude Negra (Enjune), investiu em políticas de valorização das relações étnico-raciais e fez com que o currículo escolar garantisse a crianças e adolescentes o direito de aprender sobre genocídio da população negra.

Antes, como ministro da Educação do governo Lula, seu trabalho deixou um legado inquestionável no enfrentamento às desigualdades socioeducacionais. Num país em que governos sempre defenderam, equivocadamente, políticas universais como suficientes para a garantia de acesso à educação e padrão de qualidade do ensino, Haddad —a partir de muito diálogo e tensão por parte de movimentos sociais e do movimento negro— efetivou políticas focadas na diminuição do abismo social entre brancos e negros.

O desenvolvimento das políticas de cotas raciais nas universidades públicas, a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), o Prouni, a homologação das diretrizes curriculares para a educação escolar quilombola, a ampliação da lei 10.639/2003, que inclui no currículo da rede de ensino a obrigatoriedade da história e da cultura afro-brasileira e indígena. Sou professor, e esse histórico me toca.

Também sou militante do movimento negro há muitos anos e não me permito relativizar graves erros cometidos pelo PT. As políticas de segurança pública e de drogas, por exemplo, foram adotadas no mesmo período e massacraram nosso povo. Os avanços possíveis foram insuficientes para as demandas históricas num país de herança escravocrata. Nenhum partido, governo ou liderança política foi capaz, até hoje, de responder à altura os desafios de defesa das vidas negras em nosso país. Esse desafio permanece.

O momento histórico, porém, nos cobra responsabilidade. Renovação de lideranças é uma real necessidade das esquerdas, e os partidos do nosso campo tem todo o direito de lançar suas candidaturas. Mas a conjuntura e a correlação de forças não permitem aventuras e arroubos de vaidade. É preciso unidade em torno de um nome. O currículo e o histórico de realizações qualificam Fernando Haddad como o melhor candidato ao governo do estado de São Paulo.

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