Descrição de chapéu machismo

Não à violência de gênero no samba

Coletivo Samba Quilomba trabalha de 'fora para dentro' para honrar pavilhão e trajetória de espaços criados em resistência à discriminação

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"Vocês querem criar confusão onde não existe", "ela deve ter feito alguma coisa" —e, sim, o infalível "em briga de marido e mulher…"— são só alguns dos comentários que as integrantes do Coletivo Samba Quilomba escutam todos os dias desde que decidiram botar o bloco na rua para falar de violência de gênero dentro das escolas de samba.

O grupo, criado em São Paulo, nasce a partir de um acúmulo de testemunhos de agressão passados e presentes, de violência doméstica a casos comentados à boca miúda, como o de uma ritmista de quem foi tirada a indumentária minutos antes de entrar na avenida porque ela não teria aceito um "teste do sofá" com um integrante com poder na agremiação.

Cleusa Viana, uma das referências do Coletivo Samba Quilomba, em foto dos anos 70
Cleusa Viana, uma das referências do Coletivo Samba Quilomba, em foto dos anos 70 - Acervo Pessoal

O coletivo conta que trabalha "de fora para dentro" (porque relata encontrar muita dificuldade para poder usar as quadras como espaço de diálogo e promoção de igualdade) e que vem conversando com presidentes e principalmente com as mulheres das comunidades para rasgar nos barracões a cruel fantasia do sorriso no rosto a qualquer custo.

O medo a represálias é um dos desafios porque existe a percepção de que denúncias "mancham a imagem da escola", elas ponderam. Mas, além de apoio jurídico e psicológico às vítimas, o que essas mulheres organizadas desejam, segundo contam, é justamente honrar o pavilhão e a trajetória de espaços historicamente criados em resistência à discriminação.

Em 28 de janeiro, o Samba Quilomba promoverá uma festa pública, na escola São Lucas, com rainhas e baterias convidadas, para fortalecer a discussão, finalmente, de dentro para fora. "Na tomada de decisões, a mulher não tem poder, é de cima para baixo", descrevem. "Precisamos falar de privilégios, silenciamentos, apagamentos. O corpo da mulher preta não é dela, e isso na escola de samba existe também."

Em tempo, o coletivo necessita voluntários, principalmente psicólogos, advogados e assistentes sociais: coletivosambaquilomba@gmail.com .

Denise Mota é jornalista há mais de 20 anos, com mestrado pela USP, e autora do livro "Vizinhos Distantes: Circulação Cinematográfica no Mercosul" (ed. Annablume). Vive no Uruguai

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