"Vocês querem criar confusão onde não existe", "ela deve ter feito alguma coisa" —e, sim, o infalível "em briga de marido e mulher…"— são só alguns dos comentários que as integrantes do Coletivo Samba Quilomba escutam todos os dias desde que decidiram botar o bloco na rua para falar de violência de gênero dentro das escolas de samba.
O grupo, criado em São Paulo, nasce a partir de um acúmulo de testemunhos de agressão passados e presentes, de violência doméstica a casos comentados à boca miúda, como o de uma ritmista de quem foi tirada a indumentária minutos antes de entrar na avenida porque ela não teria aceito um "teste do sofá" com um integrante com poder na agremiação.
O coletivo conta que trabalha "de fora para dentro" (porque relata encontrar muita dificuldade para poder usar as quadras como espaço de diálogo e promoção de igualdade) e que vem conversando com presidentes e principalmente com as mulheres das comunidades para rasgar nos barracões a cruel fantasia do sorriso no rosto a qualquer custo.
O medo a represálias é um dos desafios porque existe a percepção de que denúncias "mancham a imagem da escola", elas ponderam. Mas, além de apoio jurídico e psicológico às vítimas, o que essas mulheres organizadas desejam, segundo contam, é justamente honrar o pavilhão e a trajetória de espaços historicamente criados em resistência à discriminação.
Em 28 de janeiro, o Samba Quilomba promoverá uma festa pública, na escola São Lucas, com rainhas e baterias convidadas, para fortalecer a discussão, finalmente, de dentro para fora. "Na tomada de decisões, a mulher não tem poder, é de cima para baixo", descrevem. "Precisamos falar de privilégios, silenciamentos, apagamentos. O corpo da mulher preta não é dela, e isso na escola de samba existe também."
Em tempo, o coletivo necessita voluntários, principalmente psicólogos, advogados e assistentes sociais: coletivosambaquilomba@gmail.com .
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.