O Bolsômicron

O presidente brinda a variante do novo coronavírus como membro nobre de sua família

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Tom Farias

Jornalista e escritor, é autor da biografia 'Cruz e Sousa: Dante Negro do Brasil' e do romance 'O Crime do Rio Vermelho', entre outros. Membro da Academia Carioca de Letras.

Alguém provavelmente já tenha cunhado esta expressão, mas, se isto for verdade, a tomo aqui de empréstimo para encimar o título deste artigo. Ela serve para designar a junção de duas figuras antagônicas da história vivida pelo povo brasileiro: a do presidente Bolsonaro com a da nova variante do vírus que assola o país desde o início do ano passado, ômicron. É uma aliança do mal, que rivaliza as consequências da pandemia, desde o ano passado, como uma "gripezinha", e que hoje é contra a liberação da vacinação para crianças.

Charge publicada na página A2 no jornal Folha de S.Paulo no dia 2 de março de 2021 em alusão a maneira como o governo federal, através da gestão do presidente Jair Bolsonaro, vem lidando com a pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) e como tem sido o planejamento do plano nacional de imunização contra o vírus no país
Charge publicada na página A2 na Folha no dia 2 de março de 2021 em alusão a maneira como o governo federal, através da gestão do presidente Jair Bolsonaro, vem lidando com a pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) e como tem sido o planejamento do plano nacional de imunização contra o vírus no país - Laerte/Folhapress

Se já não bastassem os pronunciamentos irônicos do ministro da Saúde, médico cardiologista (haja coração!) Marcelo Queiroga, numa espécie de conversa de bêbados de porta de botequim, melhor ventríloquo do ventríloquo oficial, temos um outro agravante: a ameaça à vida de diretores e demais funcionários da Anvisa, e —para espanto geral— sem qualquer reação do governo diante de atitude tão grave e criminosa.

É intrigante imaginar um governo que apoie tal barbaridade, e incentiva, por meio de live, a exemplo do que o presidente fez quando sugeriu divulgar os nomes dos técnicos que aprovaram a imunização infantil. São autoridades —o presidente e o ministro— que não se sensibilizam com a angustia da população, ao mesmo tempo que ignoram a positividade da vacinação dos pequenos, habituados à vacinação desde quando nascem.

A ômicron sobressalta o mundo, mas o Brasil parece desprezar números e diagnósticos científicos. Por aqui, não vale nada a palavra da Dona Ciência, de infectologistas ou mesmo a triste estatística que expôs a morte de mais de 600 mil pessoas, entre as quais, jovens e crianças.

O negacionismo é maior gravidade deste governo. A genética maléfica entre a negação à vacina e o avanço da ômicron entre nós, é próxima do pensamento do gestor da nação e do timoneiro da Saúde. Bolsonaro brinda a ômicron como membro nobre de sua família. Um modelo perfeito de "bolsômicron" escrito e escarrado.

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