Fatores evidenciados pela pandemia, os desafios do acesso à saúde são e sempre foram um tema urgente. Direcionar esforços para resolver os gargalos que afligem os pacientes é, senão uma responsabilidade, um dever cívico de todos nós.
Estou confiante de que temos avançado no sentido certo à medida que vemos as discussões sobre sustentabilidade do ecossistema ganharem centralidade nos debates. Os sistemas de saúde precisam de mais fôlego para, vislumbrando as necessidades do futuro, considerarem de antemão as adaptações necessárias a fim de viabilizar uma melhor jornada aos pacientes.
Um dos pontos que considero essencial para essa conversa é aderir à medicina baseada em valor, um conceito relativamente novo, conhecido pela sigla em inglês VBHC ("Value-Based Healthcare"). Trata-se de uma visão disruptiva que muda a lógica atual e torna mais clara e direta a relação entre investimentos alocados e desfechos clínicos favoráveis alcançados. Viabilizar a medicina baseada em valor significa colocar a experiência do paciente como centro do cuidado, valorizando —e remunerando— os resultados qualitativos alcançados e não simplesmente aquilo que foi quantitativamente ofertado. É, por exemplo, remunerar os desenvolvedores de tecnologia pelo resultado positivo que determinada inovação gera ao paciente e não por dose administrada. Uma abordagem que permite a redução de desperdícios e confere maior transparência sobre o uso dos recursos destinados à saúde.
Se os benefícios relacionados a essa abordagem são inquestionáveis, os desafios para sua implementação também são. A estrutura ainda pouco desenvolvida para a gestão e para a interoperabilidade de dados nos sistemas de saúde muitas vezes coloca em xeque o cerne da medicina baseada em valor —a avaliação de resultados. O acesso precário à análise sistematizada das informações em saúde compromete a projeção de impacto que determinada tecnologia poderá gerar à linha de cuidado do paciente —problemática que, nos próximos anos, deverá ser priorizada pelos agentes do setor.
Na Roche, a estratégia de VBHC combina os pilares científico, de acesso e de medicina personalizada para que, junto a nossos clientes, consigamos concriar soluções que ajudem o Brasil a evoluir nesse sentido.
Um exemplo está no projeto que estamos desenvolvendo com a Clínica AMO, parceiro com quem nos relacionamos há mais de 20 anos e que é referência no tratamento oncológico no Nordeste do país.
Cientes dos benefícios da medicina baseada em valor, em abril de 2021 passamos a investir conjuntamente no desenvolvimento de uma solução automatizada para a jornada do paciente, permitindo a gestão de dados e a seleção de indicadores de desfecho clínico versus custo associado.
Para a AMO, o projeto redundará em melhores soluções para os pacientes, demonstrando o uso racional de recursos por meio de um fluxo de operação integrado que resulte em menos desperdícios. Para a Roche, além do benefício aos pacientes, a iniciativa pioneira permitirá um conhecimento mais aprofundado sobre o conjunto de resultados possíveis para articulação no modelo e sua escalabilidade para demais clientes nos setores público e privado. A parceria já resultou no desenho da linha de cuidado ideal para pacientes com câncer de pulmão na clínica. A previsão é de que o projeto seja inteiramente concluído até junho de 2022.
Acredito muito que esse tipo de esforço coordenado nos ajudará a transformar o potencial da medicina baseada em valor em uma realidade no país, sobretudo no sistema público de saúde. A VBHC se alicerça na colaboração de todos os atores do ecossistema, que, juntos, se posicionam como corresponsáveis pelas escolhas apresentadas para cada paciente —em vez de apenas entregar sua parte no processo.
Somente por meio desse tipo colaboração seremos capazes de garantir a sustentabilidade do ecossistema de saúde e o melhor cuidado aos nossos pacientes.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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