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O que a Folha pensa forças armadas

O pior corporativismo

Bolsonaro favorece militares e policiais, mas sem respeitar o serviço público

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Jair Bolsonaro, durante cerimônia de troca da guarda presidencial, no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters

Em sua carreira parlamentar, Jair Bolsonaro foi um líder sindical de militares e policiais. Em seu mandato como presidente, procurou intervir nas Forças Armadas e na Polícia Federal, o que ficou evidente em atritos de motivação política indevida e em decorrentes trocas de comando nessas instituições.

Não deixou, no Planalto, de ser representante dos interesses dessas corporações —que, no entanto, tenta aliciar ou subjugar.

Esse jogo entre mandonismo e militância explica o desejo presidencial de conceder benefícios salariais para a PF —Bolsonaro se empenhou em conseguir recursos para tanto no Orçamento de 2022, oficialmente solicitados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Não se sustenta a leitura de que tal benesse tenha motivação eleitoral, uma vez que as categorias favorecidas somam poucos milhares de integrantes. O mandatário quer, o que é pior, a fidelidade de boa parte da tropa, por motivos entre obscuros e espúrios.

Um inquérito no Supremo Tribunal Federal investiga se o presidente tentou intervir na PF para proteger filhos e amigos, conforme acusação de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça. O órgão já teve três diretores-gerais desde 2019, além de muitas outras trocas de comando em diretorias e superintendências.

Comandantes das Forças Armadas foram demitidos quando acharam excessivas as exigências de submissão. Por ocasião da reforma previdenciária, entretanto, os militares receberam gordos aumentos, o generalato em particular.

Os favorecimentos salariais, a desordem na política de pessoal e as intervenções indevidas na burocracia federal acabaram por suscitar revolta ampla no funcionalismo.

A promessa de benefícios para os policiais federais levou centenas de chefes de serviço da Receita Federal a entregarem seus cargos; o sindicato da categoria convocou greve. Outras corporações preparam mais protestos.

Bolsonaro não raro toma atitudes por capricho pessoal —alguns bizarros, como a redução de impostos sobre motos náuticas e barcos. Sem dispor de planos, anunciou em novembro que daria reajuste a todos os servidores, o que foi negado até pela liderança governista no Congresso.

Costuma decretar ou alardear providências para satisfazer apoiadores, grupos de interesse e falanges ideológicas, sem consideração pelo interesse geral. Em vastos setores do Executivo federal, substituiu pessoal qualificado por militantes fanáticos, amigos despreparados ou militares cooptáveis.

Com o corporativismo sem respeito ao serviço público, a ideia de administração racional empalidece —e os dados vão muito além de reajustes salariais despropositados.

editoriais@grupofolha.com.br

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