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Antonio Claudio Mariz de Oliveira

Redenção natalina

O homem ainda deve ao homem a redução da desigualdade social

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Antonio Claudio Mariz de Oliveira

Advogado

Mais um Natal com toda a família reunida. A alegria de ver a mulher, os filhos, os netos e outros parentes reunidos compensa o sentimento das ausências. Os ausentes dão lugar aos que estão presentes, sem, no entanto, nos abandonar, pois as suas imagens ressurgem por inspiração de algum fato ou pequeno detalhe. Estão sempre conosco.

As crianças no Natal nos brindam com a felicidade estampada em seus rostos quando abrem os presentes e nos remontam à uma época em que também éramos crianças. E com Papai Noel nos entregam um presente: a esperança que elas representam de um porvir melhor. Passamos, eu pelo menos passo, a crer no "velho de barbas". Dentro de seu saco de brinquedos há exatamente essa crença maravilhosa na existência de luzes a iluminar os nossos caminhos e que nos deixam impregnados de força vital.

O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira
O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira - Alice Vergueiro - 11.ago.19/Folhapress

O clima natalino também nos conduz a reflexões. Desta feita, em face do sofrimento imposto pela fome de milhões, pensei novamente, na desigualdade entre os homens.

A coleção "Os Pensadores", editada pela Folha, lançou o volume sobre Rousseau a respeito da desigualdade humana abordada em sua obra "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens". A obra realça que a desigualdade contraria o estado de natureza, pois nele é quase inexistente. Ela desafia as leis naturais e constitui um produto da própria evolução do homem, que, por meio da lei e da propriedade, a tornou estável e legítima.

Retrato do filósofo e escritor suíço Jean-Jacques Rousseau - AFP

A divisão social tem como origem fatores diversos. Teorias marxistas e socialistas de um lado, capitalistas e de mercado de outro, procuram explicar o fenômeno da desigualdade —sem êxito até os nossos dias. Explicações insatisfatórias e frustradas tentativas de estreitamento das diferenças é o que sempre tivemos.

Os que não perderam a capacidade de amar o próximo procuram minimizar as agruras provocadas pela pobreza. Neste momento de agudo sofrimento pelo qual passa o Brasil, com suas carências históricas agravadas pela pandemia, o sentimento de solidariedade aflora, e as mãos se estendem aos desafortunados.

No entanto, as bondades emergenciais, portanto casuísticas e esporádicas, minoram, mas não atingem a raiz do sofrimento imposto pelo cruel desiquilíbrio social.

Eu intuo que a questão está ligada ao comportamento do homem em face da riqueza.

Com certeza não basta ser mais caridoso. O homem precisa diminuir o seu grau de cupidez, tornando-se mais generoso; substituir a ganância por um mínimo de desprendimento; impor limites aos seus desejos consumistas, para não acumular tanto em suas mãos; distribuir riqueza, pelo menos com o pagamento condigno a quem trabalha para si; não ultrapassar barreiras éticas e legais para obter ganhos, fator decisivo de combate à corrupção. Essas são algumas mudanças exigidas a poucos em benefício de muitos.

Valores intrínsecos ao Natal e ao cristianismo, um expressivo grau de humanismo e os ensinamentos de Rousseau podem iniciar uma redenção que o homem ainda deve ao homem, diminuir a desigualdade social.

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