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O que a Folha pensa

Verão esgotado

Potencial turístico se estiola com poluição de praias por falta de saneamento

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Praia em Santos (SP) - Jardiel Carvalho/Folhapress

Um novo verão chegou sem que o Brasil tenha conseguido dar passos relevantes na despoluição das praias. Não se sabe o que é pior, se o atraso representado pela falta de saneamento ou o prejuízo por ameaçar tal patrimônio turístico.

Levantamento realizado anualmente pela Folha, em 1.338 pontos litorâneos de coleta, aponta que pouco mais de um terço (37%) das praias está em boas condições para banho. Esse indicador oscila entre 34% e 39% desde 2016, quando o monitoramento começou.

Observam-se, por certo, diferenças regionais. Melhorou a qualidade das praias no Nordeste e no litoral norte de São Paulo, mas não no entorno de Santos, zona há muito flagelada pela poluição característica de complexos portuários.

Houve recuo auspicioso no percentual de águas ruins ou péssimas, que chegou a 33% em 2019 e ora se encontra em 21%. Ainda assim, é inquietante que mais de um quinto dos balneários marinhos exibem concentrações de coliformes fecais incompatíveis com a saúde.

Pois é de esgotos que se trata, ou, mais exatamente, de esgotos não tratados. Apenas 54% da população nacional tem os dejetos recolhidos em tubulações sanitárias; da parcela coletada, ademais, só metade termina processada em estações de tratamento.

Pior, a proporção de esgotos canalizados avançou quase nada, de 50% em 2014 para 54% em 2019. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, lançamos todos os dias 5.000 piscinas olímpicas de dejeções brutas na natureza.

O governo Jair Bolsonaro delira com uma Cancún brasileira na baía de Ilha Grande, região de Angra dos Reis, no estado do Rio. Mesmo para quem enxerga no polo mexicano um ideal turístico, parece óbvio que seria obrigatório começar pela limpeza das praias.

Espera-se que o novo marco legal do saneamento abra caminho para um aumento expressivo dos aportes privados no setor, dado que os recursos públicos encontram-se exauridos. Os resultados, porém, não são imediatos.

De nada valerá encher representações brasileiras no exterior de fotografias de gente bronzeada em trajes sumários nas praias ensolaradas se o turista se arriscar a contrair doenças. Estereótipos tropicais não são páreo para a realidade do subdesenvolvimento.

editoriais@grupofolha.com.br

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