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A jogada de Putin

Convulsão no Cazaquistão traz riscos, mas pode fortalecer russo na disputa que trava na Ucrânia

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Militares bloqueiam rua no Casaquistão para conter protestos - Abduaziz Madyarov/AFP

Durante os 30 anos que se seguiram ao fim da União Soviética, o Cazaquistão só fez manchetes no Ocidente quando seu ditador passou o bastão para um autocrata em 2019, um processo algo turbulento.

No mais, era conhecido como o país que sedia a base espacial russa de Baikonur, polo de mineração de bitcoins, grande exportador de hidrocarbonetos e urânio e pátria do personagem satírico Borat.

Foi assim até quarta passada (5), quando houve uma erupção social na maior nação da Ásia Central. Naquele dia, prédios públicos foram incendiados, dezenas morreram. Um choque para quem mirava lá uma ilha de estabilidade.

Como ocorreu no Brasil de 2013, tudo começou com um protesto econômico, no caso o aumento do gás liquefeito de petróleo, que é muito usado em veículos.

Mas a situação escalou para um confronto armado, apesar da escassez de relatos, até porque o governo tirou da tomada tanto a internet quanto a telefonia móvel.

Ato contínuo, administração de Kassim-Jomart Tokaiev tomou medidas além da repressão. Após o presidente retirar algumas funções do antecessor, que ainda flutuava sobre o establishment local, ele apelou a Vladimir Putin no Kremlin.

O Cazaquistão é parte da chamada periferia ex-soviética, que o líder russo quer restaurar como área de influência para garantir espaço estratégico contra inimigos.

Sua presença convocada por Tokaiev, na forma dissimulada de tropas de uma aliança militar de antigos membros da União Soviética sob comando de Moscou, seria esperada num caso desses.

Mas o momento para tudo isso traz elementos que desafiam a casualidade. Nesta segunda (10), russos e americanos começam a debater o impasse em torno da pressão militar que o Kremlin impõe à Ucrânia, com mais de 100 mil soldados em posição que o Ocidente lê como a de uma invasão para garantir seus interesses e a autonomia de separatistas pró-Rússia.

Assim, ou bem a crise cazaque atrapalhará Putin como diversionismo, ou o ajudará, pois uma solução que parece se encaminhar o pinta como alguém que garante a paz com o uso da força. Ele sentará à mesa com mais musculatura.

Ambas as alternativas apontam para teorias conspiratórias sobre quem sequestrou os atos e os manipulou. Na prática, tanto faz para o longevo presidente russo: até aqui, tudo sugere que ele sairá beneficiado deste momento agudo.

editoriais@grupofolha.com.br

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