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Fenômeno global, disparada da inflação no Brasil foi agravada pela gestão de Bolsonaro na economia

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Inflação de alimentos afetou sobretudo os mais pobres em 2021 - Eduardo Matysiak/Futura Press/Folhapress

A inflação ao consumidor terminou o ano passado em 10,06%, a maior variação desde 2015 e uma das mais altas da série histórica a partir do advento do sistema de metas para a inflação, em 1999.

É fato que o problema da alta acelerada dos preços se mostra global —nos Estados Unidos o índice comparável subiu 7%, em face principalmente de choques setoriais ocasionados pela pandemia.

Mas no Brasil a má gestão do Executivo, na saúde e na economia, impôs desnecessário peso sobre a população mais vulnerável. O perfil da alta dos preços foi especialmente cruel, com destaque para o encarecimento de produtos de primeira necessidade, como alimentos, energia e gasolina. Em 2021, esses três itens subiram 8,2%, 21,2% e 47,5%, respectivamente.

De outro lado, a inflação de serviços, notadamente os prestados pela mão de obra informal e menos especializada, foi menor (4,75%). Na prática houve uma grande perda de renda disponível para os mais pobres, agravada pelo desemprego.

As cenas de fome nas cidades e o crescimento da miséria —em julho de 2021 cerca de 13% da população vivia com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 261 mensais, o maior percentual em uma década— expõem o drama social.

Embora, segundo estimativas do Banco Central, quase 70% da inflação de 2021 possa ser atribuída a fatores externos —alta das matérias-primas e variação do câmbio—, a desconfiança quanto à política econômica amplificou a pressão.

Num ano em que os preços de itens exportados pelo país, caso de minério de ferro e soja, dispararam no mercado internacional, seria esperado que o dólar caísse. Não foi o que ocorreu, sobretudo depois que o governo burlou os limites de gastos públicos para bancar a agenda eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O resultado foi a disparada do câmbio e das expectativas de inflação, o que obrigou o BC a ampliar o choque dos juros, que já chegam a 9,25% e atingirão dois dígitos em janeiro. Não por acaso as projeções de crescimento para 2022 caem continuamente.

O combate à inflação ocupa os principais bancos centrais do mundo. No caso dos EUA, o Federal Reserve já indicou que subirá a taxa básica com mais rapidez e retirará liquidez dos mercados. Mesmo assim, a política monetária permanece favorável ao crescimento e espera-se convergência às metas.

No Brasil, além das dificuldades de sempre, como a indexação que alonga o impacto do choque de preços, é mais difícil obter essa convergência quando há incerteza em relação à responsabilidade fiscal. O custo social é bem maior que alhures. Essa parte da conta pode ser atribuída a Bolsonaro.

editoriais@grupofolha.com.br

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