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Clima sem vacina

Empresários globais se adiantam a governos omissos na mitigação de risco climático crescente

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Bairro Colônia Santa Izabel, em Betim (MG), alagado pelas chuvas - Vladimir Araújo/FramePhoto/Folhapress

Chuvas torrenciais arrasam vidas e moradias das populações pobres de Minas Gerais e Bahia. Cenas pavorosas se repetem há três semanas nos noticiários. Em contraste, no Sul, lavouras inteiras se perdem por falta de precipitação.

Uma das causas está no fenômeno cíclico natural La Niña, resfriamento anormal das águas do Pacífico, oposto ao El Niño. No entanto, a meteorologia ensandecida parece também sofrer a influência do esquentamento acentuado do Atlântico, difícil de dissociar do aquecimento global.

Negociações internacionais para reverter emissões de gases do efeito estufa engatinham. Estão em franco descompasso com o requerido pela dinâmica atmosférica turbinada pelo excesso de energia solar represada por dióxido de carbono e metano, principalmente.

A convenção da ONU sobre mudança climática data de 1992. Para cumprir as metas de Paris (2015) e Glasgow (2021), seria preciso cortar as emissões de carbono em 50% até 2030 e zerá-las em 2050 —e elas voltaram a crescer em 2021.

Parte do incremento decorre da reativação econômica, mas há fatores alheios à pandemia. No Brasil, que tem no desmatamento e na agropecuária as maiores fontes de emissões, a destruição da Amazônia e do cerrado cresce desde 2019, sob Jair Bolsonaro (PL).

Diante da inação de governos negacionistas ou omissos, o setor privado se movimenta para assumir a liderança da transição climática. É uma incógnita, entretanto, se haverá energia limpa bastante e no prazo certo para desacoplar a economia mundial dos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo.

A perspectiva de fracasso na mitigação do aquecimento aparece como principal preocupação de empresários entrevistados para o Relatório de Risco Global 2022, documento preparatório do Fórum Econômico Mundial em Davos. O clima dominou o ranking de perigos nos três cenários cogitados, pela primeira vez.

Não será surpresa se, em futuro próximo, empresas e nações mais expostas ao risco climático passarem a enfrentar restrições de crédito e acesso no mercado mundial. Já se fala em testes de estresse climático para bancos, por exemplo.

O Brasil tem muito a perder num clima que se distancia de parâmetros históricos e previsíveis. E, para esta ameaça existencial, não existe vacina a que a população e empresários possam aderir, à revelia de um governo irresponsável.

editoriais@grupofolha.com.br

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