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O que a Folha pensa

Favela ocupada

Novo programa do Rio deve ser visto com cautela, sobretudo em ano eleitoral

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Policiais na favela do Jacarezinho, no Rio - Carl de Souza/AFP

Na última quarta (19), as comunidades de Jacarezinho e Muzema, no Rio, amanheceram aos sons de uma megaoperação policial. Ao todo, 1.300 agentes, 800 militares e 500 civis, além de um helicóptero, blindados e reforços nas vias expressas, deram início ao programa Cidade Integrada, lançado pelo governador Cláudio Castro (PL).

Conforme as primeiras informações disponíveis, a iniciativa tem o objetivo central de retomar territórios —do tráfico de drogas, no caso do Jacarezinho, e da milícia, em Muzema. Outras metas incluem melhorias de espaços públicos, reforma de habitações, ações sociais e de geração de emprego.

Segundo o governo fluminense, serão desembolsados de início R$ 500 milhões no programa. Em entrevista no sábado (22), Castro chegou a declarar que a polícia do estado —sobre a qual, recorde-se, pesam casos de corrupção e violência letal— deverá se reinventar.

Desnecessário apontar que promessas e intenções do gênero devem ser encaradas com cautela, sobretudo em ano eleitoral. Resultados iniciais favoráveis não garantem progresso duradouro.

Tome-se a história das Unidades de Polícia Pacificadora, projeto implantado em 2008 na gestão de Sérgio Cabral (MDB). Por algum tempo, celebrou-se o sucesso das UPPs em reduzir o domínio armado em pequenas comunidades e em permitir a inserção de equipamentos públicos e programas sociais em áreas de favela outrora negligenciadas.

Os avanços, no entanto, dissolveram-se na década seguinte, com a insuficiência de recursos públicos, corrupção e abusos policiais. Em particular, o caso do Complexo do Alemão exemplifica como uma ideia promissora resultou em elefantes brancos e volta da violência.

Não há atalhos em segurança pública. Palco da operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que resultou em 28 mortos em maio do ano passado, o Jacarezinho tem todos os motivos para temer uma política de confrontos.

Ocupar militarmente comunidades não propiciará, de uma hora para outra, um ambiente mais seguro. Requer-se planejamento integrado entre prefeitura e governo do estado, combinando policiamento e investimento social.

Sem persistência em trazer os moradores das regiões para participar da formulação da política que os afeta, o que sobrará será tão somente uma cidade ocupada —e, ainda assim, temporariamente.

editoriais@grupofolha.com.br

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