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Paulo Lotufo

Faz sentido vetar o Carnaval de rua e liberar os desfiles das escolas de samba? SIM

Sob regras rígidas, agremiações também devem zelar pela segurança

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Paulo Lotufo

Epidemiologista e professor titular de clínica médica da Faculdade de Medicina da USP

Toda avaliação sobre a pandemia de Covid-19 sempre poderá ser alterada em pouco tempo. A opinião em meados de janeiro sobre o Carnaval, no final de fevereiro, poderá se modificar rapidamente tanto pela dinâmica do comportamento do coronavírus, ainda pouco compreendida, como pela possibilidade de infecções concomitantes, como foi a epidemia pela influenza A em pleno mês de dezembro.

A contradição entre cancelar o Carnaval de rua e permitir o desfile das escolas de samba é aparente porque são duas atividades com características muito distintas em relação a tudo, o que conduz a diferenças significativas sobre o contágio pelo Sars-CoV-2.

O epidemiologista e professor da USP Paulo Lotufo - Marcos Santos - 19.abr.21/USP Imagens

Em muitas cidades, o Carnaval de rua não tem quase controle algum porque o número de participantes é ilimitado. Já os desfiles, pelo contrário, são exemplos de organização detalhada e obrigatória atém em razão das regras rígidas e competitivas.

No entanto, a defesa da realização do desfile das escolas de samba aqui apresentada tem tantas premissas que quase pode ser vista como manifestação contrária à sua execução.

O primeiro ponto é que os participantes dos desfiles deveriam ser inscritos em um aplicativo de fácil manuseio pelas secretarias de Saúde junto aos organizadores. Isso permitirá que se confronte o histórico vacinal e a realização de teste para o coronavírus à véspera da festa.

O segundo ponto é que não deverá haver plateia nos sambódromos. Diferentemente de torcidas de futebol, a animação em um desfile acarreta maior probabilidade de contágio.

O terceiro é em relação à quantidade de componentes, que deverá ser reduzida, e também à origem desses foliões. O ideal é que todos sejam da área metropolitana onde a agremiação está sediada. Com isso, se evitará a vinda de participantes de outros estados e haverá menor contato em aviões. De quebra, aumenta-se a representatividade da comunidade de origem da escola.

O quarto ponto é a vacinação, que deverá incluir não somente as duas doses regulares, como também a de reforço. O sistema de informática a ser adotado permitiria que se verifique junto às plataformas oficiais se aquele participante inscrito, de fato, foi imunizado.

O quinto ponto é a realização, 24 horas antes do evento, do teste para identificação do vírus em todos os participantes e equipes de apoio. Para tanto, cada escola de samba deverá contratar laboratórios privados para realizar os testes, que serão devolvidos ao participante e, ao mesmo tempo, informado ao sistema informatizado de controle.

O sexto se refere ao uso de máscaras, que deverá ocorrer em todos os momentos possíveis, com exceções acertadas previamente.

O sétimo ponto é de escrutínio dos próprios sambistas, que precisam definir desde já quais os quesitos em julgamento seriam mais ou menos propícios ao contágio.

O oitavo e último ponto é sobre o "antes", ensaios, e o "depois", apuração. As quadras deverão ser fechadas e substituídas por locais abertos.

O Carnaval é expressão maior da brasilidade. Em uma sociedade excludente, os desfiles das escolas de samba representam oportunidade única do preto e pobre ser protagonista por uma noite. Assim, prefeitos e governadores, ao lado das agremiações, deverão zelar pela realização dos desfiles desde que as premissas acima elencadas acima sejam rigorosamente cumpridas.

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