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Infância protegida

Ante desatinos de Bolsonaro e Queiroga, pais agarram chance de vacinar crianças

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Imunização de crianças sem comorbidades em São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

A baixeza do governo no trato da pandemia se revelou por inteiro na ofensiva contra a vacinação de crianças. Felizmente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde vão sendo derrotados mais uma vez.

Nada menos que 79% dos brasileiros aprovam imunizar meninas e meninos de 5 a 11 anos, tal como autorizado pela Anvisa. A maior parte da população não dá ouvidos ao negacionismo bolsonarista.

No último lance absurdo dessa claque ideológica, o Ministério da Saúde rejeitou a contraindicação da hidroxicloroquina expedida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS.

O parecer do comitê havia sido usado como pretexto pelo ministro Marcelo Queiroga, na CPI da Covid, para esquivar-se de rejeitar o medicamento preconizado como panaceia pelo presidente.

Agora, em documento para justificar a recusa da opinião técnica, sua pasta chegou ao cúmulo de afirmar que a droga conta com evidência de eficácia, e as vacinas, não.

A confiança na Anvisa está ganhando de lavada, porém. A tradição criada pelo Programa Nacional de Imunizações fala mais forte para calar a antipropaganda.

Menos de dez dias após iniciada a aplicação da vacina na nova faixa etária, até domingo (23), só na cidade de São Paulo, quase 111 mil crianças a receberam. Perfazem, assim, mais de 10% do público alvo da coorte na capital.

Em boa hora fracassou a manobra ensaiada no Planalto de exigir pedido médico para a imunização de infantes. Bolsonaro contou, para tal desatino, com a cumplicidade de Marcelo Queiroga.

Efetivada, haveria configurado medida excludente, fadada a prejudicar mais os pobres. Famílias afluentes não demorariam a conseguir o papel carimbado, enquanto as demais teriam de enfrentar aglomerações e filas de espera em estabelecimentos públicos de saúde.

Crianças compõem o último contingente populacional em que o novo coronavírus ainda circula sem resistência. Vaciná-las é um imperativo inadiável, de modo a estancar a privação de ensino presencial e convívio com os pares.

Tal obrigação, entretanto, tem dois desafios hercúleos pela frente. Um, fazer chegar imunizantes a todas as crianças no país, em especial as de estados atrasados na vacinação de adultos.

Em seguida, há que acelerar as análises para incluir também os menores de cinco anos. Esta é a faixa mais vulnerável, na qual ocorreram 79% das 1.544 mortes de crianças de 0 a 11 anos no país —número que só um presidente desalmado consideraria insignificante.

editoriais@grupofolha.com.br

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